Qua Set 09, 2009 5:31 am
CRÍTICOS PERGUNTAM À OMS PORQUE AINDA NÃO FORAM EM BUSCA DO TAMIFLU GENÉRICO
http://blog.taragana.com/n/critics-ask-why-who-hasnt-pursued-generic-tamiflu-to-help-poor-countries-fight-swine-flu-59025/
Críticos perguntam por que a OMS não providenciou Tamiflu genérico para ajudar os países pobres a combater a gripe
suína - Maria Cheng, 11/Maio/2009
Críticas: OMS LERDA EM GENÉRICOS PARA A GRIPE SUÍNA
LONDRES - À medida que os países pobres encaram uma possível pandemia com o Tamiflu disponível apenas para uma diminuta fração de suas populações, alguns especialistas estão clamando por uma solução simples porém beligerante: uma maciça produção de genéricos.
Antivirais como o Tamiflu têm a reputação de serem efetivos contra a gripe suína se forem administrados precocemente, e genéricos a bom preço podem facilmente ser produzidos em países como a Índia. Muitas nações ricas estão sentadas em cima de imensos estoques do caro medicamento Tamiflu, adquiridos da indústria farmacêutica suíça Roche.
O Tamiflu tem proteção de patente na maioria dos países, mas as regras da OMS permitem aos países desconsiderar esses direitos em caso de crise sanitária. A gigante farmacêutica indiana CIPLA disse que cobraria cerca de doze dólares por
um tratamento de Tamiflu genérico. Um tratamento do Tamiflu da Roche, duas cápsulas por dia por cinco dias, pode chegar a $ 100.
Isso suscitou os críticos a questionarem por que a OMS não encomendou fornadas de tamiflu genérico, ou encorajou os países pobres a fazerem isso, quando disparou o nível de alerta pandêmico para a fase 5 - que sinaliza que um surto global de gripe está "iminente".
Alguns suspeitam que a OMS está relutante para não enraivecer as indústrias farmacêuticas, que fornecem estoques grátis para a agência, encorajando o uso de genéricos. A despeito das normas da OMS, as indústrias farmacêuticas do ocidente lutaram longamente para manter os genéricos fora dos mercados a todo custo.
"É preciso que haja um melhor sistema atuando de tal modo que a OMS não tenha que depender da boa-vontade e da caridade dos fabricantes de drogas para obter remédios para os países pobres", disse Sangeeta Shashikant da Third World Network, uma organização desenvolvimentista não-lucrativa.
"A OMS insiste que está fazendo o melhor que pode para assegurar antivirais para os países pobres".
"A OMS irá trabalhar em benefício de seus estados-membros para assegurar adicionais de antivirais conforme for necessário, quer através de doações ou compra pelo menor preço que possa conseguir, para dar apoio aos países emergentes necessitados", disse Elil Renganathan, um funcionário da OMS no departamento de antivirais."
Dois remédios para gripe, Tamiflu e Relenza, são principalmente usados para tratar da gripe, mas eles só funcionam se forem usados dentro das 48 horas dos primeiros sintomas. Estudos demonstram que eles cortam a duração da doença em cerca de um dia, comparando com os que não fazem o tratamento.
Ainda se sabe pouco sobre a possibilidade desses remédios ajudarem a reduzir complicações da gripe, como a pneumonia, e poucos estudos os testaram em crianças.
Especialistas dizem que as vacinam iriam oferecer melhor proteção contra a pandemia de gripe suína mas ainda por alguns meses elas não estarão disponíveis. E, mesmo quando estiverem, os países ricos estão em primeiro lugar na fila: Grã Bretanha, Canadá, Dinamarca, França, EEUU e outros, todos já fecharam contratos com os fabricantes de vacinas para assegurar que receberão as primeiras fornadas da vacina pandêmica diretamente da linha de produção.
A OMS está apelando para que os fabricantes de vacina separem alguns lotes para os países pobres, mas é duvidoso se eles terão o suficiente para tratar uma parcela significativa de suas populações.
Na segunda-feira, a CIPLA anunciou que poderia produzir 1.5 milhão de tratamentos de uma versão genérica de Tamiflu nas próximas semanas. Mas Yusuf Hamied, o presidente da companhia, disse estar preparado para fazer ainda mais tratamentos, tão logo os países mais pobres e agências como a OMS fizerem os pedidos.
"Poderíamos fazer muito mais, mas é preciso haver um firme compromisso por parte dos países e de agências como a OMS", ele argumenta. "A bola está na área."
Até o momento, a OMS não fez a recomendação para que países com capacidade de produção dêem início à produção de suas próprias reservas de antivirais genéricos.
A OMS tem um estoque de cerca de 5 milhões de tratamentos de Tamiflu doados pela Roche; no início dessa semana a Agência começou a enviar 2,4 milhões de tratamentos para 72 países pobres. Mas são números pálidos em comparação às centenas de milhões de pessoas no terceiro mundo que se revelariam vulneráveis durante uma pandemia de gripe.
A Roche diz ter garantido sub-licenças para duas companhias na China e uma na India (Hetero Drugs) para produzir versões genéricas do Tamiflu. Anunciou também uma transferência de tecnologia para uma companhia na África do Sul e a oferta de um preço rebaixado para 12 euros por tratamento para as nações pobres.
"Permanecemos prontos para discutir opções com quaisquer indústrias capazes de fabricar o Tamiflu", disse David Reddy, que trabalha na força-tarefa da Pandemia Global da Roche.
A OMS diz estar explorando uma produção de genéricos, mas decisões não foram tomadas ainda. A OMS diz ser incerto em quanto uma produção maciça de genéricos poderia aumentar o fornecimento global, e não saberia estimar um custo.
Renganathan disse que a OMS deseja assegurar que todos os remédios genéricos correspondam aos padrões de segurança do medicamento. Ele disse que estão investigando a possibilidade de produção de genéricos com companhias localizadas seja onde for.
Ainda assim, os críticos dizem que a OMS tem sido vagarosa em relação aos genéricos.
"Eu não sei porque a OMS não se empenhou na obtenção de genéricos", disse Tido von Schoen-Angerer, diretor da Campanha de Acesso a Remédios Essenciais dos Médicos Sem Fronteiras.
"Um grande papel para a OMS é aumentar o fornecimento mundial de antivirais genéricos e garantir que todos os países tenham acesso a eles", disse Schoen-Angerer. "Não está claro o porquê de a OMS não haver priorizado isto."
Com uma grande reserva de genéricos, os países em desenvolvimento que os pudessem adquirir, como a Tailândia e o Brasil, poderiam reforçar seus próprios estoques. Para as nações mais pobres, agências como a UNICEF poderiam comprar os antivirais e distribuí-los para os países necessitados.
Altos índices de HIV, malária, tuberculose, má-nutrição e outros problemas de saúde aprofundam enormemente a vulnerabilidade das nações mais pobres a uma pandemia de gripe.
Até agora, os críticos dizem não haver indicação por parte da OMS de que as opções de genéricos serão priorizadas para os países mais pobres, incapacitados de adquirir o Tamiflu da Roche.
"Os países irão se virar como puderem para conseguir tanto remédio quanto possam nessa situação", disse Martin Khor, diretor executivo do South Centre, um Comitê de Estudos focado em países em desenvolvimento.
"A OMS deveria estar ajudando os países a conseguirem estoques de antivirais ao melhor preço possível".
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Transcrição da Audiência Pública do Tamiflu na Câmara dos Deputados
TRANSCRIÇÃO de trechos da Audiência Pública na Câmara dos Deputados
Dispensação do Tamiflu, 03/09/2009, 9:30 hs
(Eu recomendo a todos a audição da discussão em sua íntegra. Tentei anotar os tópicos principais. A audiência completa está no endereço:
http://imagem.camara.gov.br/internet/audio/Resultado.asp?txtCodigo=00015167
(selecionar trechos de 1/2 hora)
Convidados ao Evento:
Dr. Juvêncio Furtado, Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia
Dr. Alberi Grando, Secretário Municipal de Saúde de Passo Fundo, RS
Dr. Celso Ramos, Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do RJ
Dr. José Lúcio dos Santos, Superintendente da Vigilância de Saúde Paraná
Dr. Eduardo Hage, Diretor de Vigilância Epidemiológica da SVE do M.Saúde
Dr. Juvêncio Furtado: (Soc. Bras. Infectologia)
[...] A dispensação mais ampla do tamiflu, embora sem a capilaridade esperada, mudou a gravidade da doença: isso vem comprovar o seguinte fato: um tratamento mais precoce significa diminuição nos números de casos graves. O que fazer a partir de
agora? Vem aí a segunda onda mundial, a uma taxa de ataque prevista para atingir de 20 a 30% da população. O H1N1 já é predominante no Brasil. A maior questão é como esse medicamento, única arma disponível no Brasil, poderá ser ampliada?
Para o próximo ano, a grande arma será a vacina, para a qual deverão ainda ser estabelecidas as prioridades. Quantas doses o MS irá disponibilizar?
Quanto ao Zanamivir, está dependente de aprovação do Ministério, por enquanto só temos o Oseltamivir.
Também precisamos de um maior número de leitos UTI para os casos graves.
Dr. ALBERI BRANDO, Secretário da Saúde de Passo Fundo, RS
Passo Fundo tem uma história que deve ser contada. O que fizemos em Passo Fundo?
Pra quem não conhece, fica no norte do Estado, fronteira com Uruguai e Argentina, na cabecinha do "S". P.F. tem 180 mil habitantes e é uma cidade-referência em medicina, além de termos os eventos "Jornada de Literatura", o Festival Internacional do Folclore, entre outros. Temos o maior centro médico do RS, com padrões de excelência em medicina.
Nossos hospitais:
Hospital São Vicente de Paula, com 590 leitos;
Hospital da Cidade, com 188 leitos.
Hospital Municipal, com 92 leitos e ainda temos
1 Hospital privado, com 90 leitos.
Nossa Secretaria da Saúde tem 1.100 servidores, e temos aqui 4 distritos sanitários.
Temos 6 grandes Unidades de Saúde, que prestam mensalmente 20.000 atendimentos médicos e cerca de 36.000 atendimentos de enfermaria.
Nosso problema começou no dia 28/6, com a morte de um caminhoneiro de Erechim. No dia 8 de Julho, um comerciante, dono de uma lancheria, veio a falecer, sem ter nenhuma estória de viagem. Alí já se pensou em vírus endógeno. Em 10/7 morreu um garçom, que tb não tinha viajado pra lugar nenhum. Fomos em busca de dados: até o dia 21/8, havia ocorrido 22 mortes.
Criamos um Comitê Municipal da Gripe A no dia 17/7; a constituição desse Comitê foi o que fez com que as coisas dessem certo. Como passar as informações, não apenas para o público, mas também para os médicos? Cancelamos eventos, em que pese a grande pressão que sofremos para que não o fizéssemos. Foi cancelada a Jornada de Literatura, que iria reunir mais de 20.000 pessoas(foi transferida para Outubro); o Comitê capacitou os profissionais que iriam atender na rede, e dentro dos hospitais. Para o tamiflu, criamos uma ficha de referência, que era preenchida pelo médico e com ela o encarregado se dirigia à Farmácia Municipal para retirar o tamiflu. Assim, os pacientes começaram a ser atendidos precocemente. Veio a notícia de que Passo Fundo estaria desobedecendo o Protocolo do MS, mas a coisa não é bem assim. Tínhamos muitos pacientes hospitalizados, com casos graves, precisando de tratamento. Além disso, nosso Código de Ética estabelece em seus artigos:
Artigo 16): Nenhum dispositivo regimental poderá limitar a escolha, por parte do médico, dos meios a serem postos em prática para benefício do paciente;
Artigo 57) É vedado ao médico deixar de utilizar todos os meios disponíveis de tratamento a seu alcance, em favor do paciente.
Ou seja, o médico tem OBRIGAÇÃO de fazer uso de tudo quanto seja necessário em prol do paciente.
A Farmácia Municipal dispensou 160 tratamentos de 75 mg, e 8 suspensões;
O Hospital São Vicente de Paula efetuou 179 atendimentos, ministrando 115 tratamentos 75mg e 16 suspensões; o Hospital da Cidade (Pronto-Clínica) atendeu 96 pacientes com sintomas, ministrando 72 caixas Tamiflu 75mg e 2 suspensões.
Nosso critério para medicar: se o paciente apresentava tosse que não cedia com remédio nenhum, febre que não baixava com medicamento, dispnéia e mialgia (entre outros), já havia indicação para se administrar o tamiflu. Os pacientes graves eram encaminhados para a UTI, quando necessário.
Em Passo Fundo morreram 22 pessoas (11 homens e 11 mulheres),
Casos com Cura (comprovadamente de portadores do Vírus H1N1): 21 mulheres e 10 homens.
(ele dá outros dados, quem se interessar poderá ouvir a gravação em:
http://imagem.camara.gov.br/internet/audio/Resultado.asp?txtCodigo=00015167
Dr. Celso Ramos, Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do RJ
"O Brasil sempre subestimou a gripe. O assunto gripe nunca é suficientemente ventilado, nem nas faculdades. A vigilância epidemiológica da gripe é muito difícil de ser feita. A resposta internacional deve adotar a perspectiva da iminência de uma pandemia. Em 1983 tivemos o Corona Vírus, com muitos casos de SRAG. O Regulamento Sanitário Internacional tinha essa visão, mas houve hesitação em declarar a pandemia, e depois a doença não se apresentava com a gravidade esperada.
Há 3 pontos que foram falhos no Brasil:
1) Restrição ao acesso a exames - só 3 laboratórios no início podiam fazer o exame, agora me parece que houve a liberação para mais 3 ( PR, RS e MG); quanto ao teste RT-PCR, muitos laboratórios estão sendo impedidos de fazê-lo;
2) Houve retardo na detecção da transmissão autóctone;
3) A restrição do acesso ao oseltamivir, que funciona com esse sistema emperrado, com o MS disparando medidas que impedem o acesso da medicina privada ao medicamento, quando no RJ 51% da população opta por esse sistema (medicina privada). Foi essa restrição que o governo ocasionou com a compra de todo o estoque do tamiflu, alegando agora NÃO HAVER RESTRIÇÃO à venda, MAS confirmando que vai continuar comprando toda a produção da Roche - o que significa que a situação vai continuar assim.
As 3 justificativas do MS para essa regulação na dispensação do tamiflu no Brasil NÃO SE SUSTENTAM; o Ministério diz que o nosso protocolo está conforme às recomendações da OMS, mas existem diferenças na facilidade ou dificuldade no acesso ao remédio.
Por exemplo: o protocolo de 20/8 da OMS fala em DEVER de medicar as crianças abaixo dos 5 anos de idade, os adultos acima de 65, os asilados, os imunossuprimidos, as gestantes. Quanto aos indivíduos saudáveis de qualquer idade a OMS não diz que eles NÃO DEVEM ser medicados, e sim que NÃO NECESSITAM. Pode medicar, não há contra-indicação, apenas não é necessário, mas se quiser medicar, tudo bem! Quanto a doentes graves: tratar assim que possível, com dose aumentada de remédio e com prazo dilatado de fornecimento do remédio. TODOS tem que ser tratados, as crianças abaixo de 5 anos e as grávidas também. O texto é muito claro.
As primeiras recomendações do Ministério da Saúde diziam que crianças abaixo de um (ou dois anos de idade, não tenho certeza) NÃO deveriam ser medicadas; quanto às gestantes, faziam sempre observações incômodas - depois recuaram. "Cuidado!", diziam, afirmando que o médico deveria responsabilizar-se pelo tratamento - como se alguma vez o médico não fosse responsável pelo tratamento que prescreve!!! Paciente com doença não complicada NÃO NECESSITA, o que NÃO é a mesma coisa do que se dizer que NÃO DEVE. TODOS podem ser tratados, não há contra-indicação ao tratamento!
Quanto à Resistência: Em primeiro lugar, pelos dados da OMS essa não é considerada um doença comum ou igual à gripe sazonal, como vocês ventilaram. Até o presente momento, 12 casos vinculados a resistência ao antiviral foram detectados, casos na maior parte vinculados a doses profiláticas, sub-terapêuticas, porém casos isolados, sem conexão epidemiológica. Não é novidade, aparecer um vírus resistente ao remédio e ele permanecer no âmbito daquele doente, ao terceiro dia ele desaparece (o vírus). Talvez as autoridades tenham se preocupado com o surgimento, na Áustria, do H1N1 endêmico, resistente ao Oseltamivir. Em seguida apareceu resistência nos EEUU, resistência do vírus SAZONAL ao oseltamivir, resistência de 99,5%. Meu Deus, o que aconteceu? Nada de especial, é assim mesmo, o H3N2, que circula JUNTO com esse outro vírus, apresentou resistência ao antiviral de 0%.
No Brasil sabemos de apenas 18 isolados virais, com 4 amostras com resistência ao H1N1 ENDÊMICO.
NÃO POSSO DEIXAR DE USAR UMA DROGA QUANDO ELA É INDICADA PARA GUARDÁ-LA COMO RESERVA ESTRATÉGICA PARA ALGUM MOMENTO QUE NÃO SEI QUAL SEJA.
O terceiro argumento do MS, para cuidado na administração do tamiflu, seriam os EFEITOS COLATERAIS.
Quero dizer aqui que o tamiflu NÃO É um remédio conhecido por ter fortes efeitos colaterais, senão vejamos (aqui ele aqui faz uma análise comparativa entre os principais efeitos colaterais, que são: cefaléia, náusea, diarréia, dor de cabeça e vômitos, comparando quem tomou o sal com quem tomou o placebo: diferenças ínfimas, sendo que, no caso de diarréia, os que tomaram o placebo tiveram índices superiores de ocorrência de diarréia do que os que tomaram o sal).
Com isso, com essa restrição - que o MS diz que não existe, mas que na prática existe - o MS diz que está impedindo o brasileiro de fazer auto-medicação. NO ENTANTO, o Ministério da Saúde permite a venda livre, sem controle e sem prescrição médica, de antibióticos, corticosteróides, anti-inflamatórios, antidiabéticos e
MUITOS OUTROS MEDICAMENTOS COM EFEITOS COLATERAIS MUITO MAIS SÉRIOS E CONHECIDOS.
Num outro diapositivo o Dr. Celso Ramos demonstra quão baixa é a incidência de efeitos colaterais do tamiflu. Num outro, mostra a Roche alertando contra a sua compra via Internet, a preços muito mais elevados.
ELEUSIS PAIVA, autor do requerimento
Primeiro eu queria falar brevemente a honra de estar aqui com dois brilhantes secretários da Saúde, Dr. Bonow e Dr. Jofran, com quem aprendi muito, e nosso eterno Ministro da Saúde, Dr. Alceni Guerra.
Eu fui o autor do requerimento mas represento a todos os senhores com quem em conversas particulares expressaram preocupação com o momento que estamos vivendo, e não quero falar como deputado, quero eximir o ato de gesto político, falo muito mais como médico, então somos do PS, o Partido da Saúde, sem qq outra relação político-partidária. Agradecer muito ao Dr. Juvêncio da S.B. de Infectologia, e elogiar Passo Fundo que tomou medida extremamente ousada e que tem dados que enriquecem muito. Quanto à dispensação do tamiflu, todos nós temos recebido demais em nossos e-mail reclamações quanto à dificuldade de obtenção do tamiflu. Almocei com 4 prefeitos que inclusive estão sem estoque de Tamiflu. Não há capilaridade para as cidades de pequeno porte. Na Câmara vemos a presença do tamiflu no mercado paralelo. Só existe mercado paralelo quando há falta de medicamento. Secretário fez ofício solicitando tamiflu para o serviço médico da casa. Houve muita revolta na população, o que leva a apenas uma conclusão: se se revoltam é porque eles não tem, se tivessem não se revoltariam, portanto a sociedade não está se sentindo contemplada com a dispensação. Conversando com o Celso e o Juvêncio, que são referências pra nós de especialidade, estamos vivendo dois momentos: 1) diminuição de casos, possivelmente diminuição do ciclo, e há outro grupo que coloca que o segundo ciclo possa vir do hemisfério norte por estarem no inverno lá, precisamos de estratégias para desenvolver tanto para um lado como para outro. Quanto ao futuro, a maior preocupação, é saber como vai ser a lógica para a vacinação que não estará disponível para tantos. A novidade é o adulto jovem, um fato novo que pode fazer com que se mude a estratégia. Perguntar ao ministério como vai ser a dispensação, precisamos de um avanço em relação ao que já se fez. Outra grande preocupação é quanto à infra-estrutura hospitalar, nós não temos UTIs na ausência da epidemia, temos a saúde sub-financiada nesse país, ou assumimos isso e conseguimos recursos suplementares; o financiamento do INAMPS era 30% da Seguridade Social (a nível federal) seriam 120 bilhões; o governo federal coloca 55 bilhões na Saúde, menos da metade, isso tem que ser aberto pra população; precisamos modificar a política de financiamento à Saúde Pública nesse país. O Celso já está querendo fazer uma pergunta.....
DEPUTADO JOFRAN FREJAT
Com esses dados que você apresentou, Deputado Eleusis, eu estava naquela época, precisamos entender que deveremos tratar a doença pela metade tb (risos).... a OMS fez uma colocação de que aprox. 30% da população seria afetada pelo H1N1, o que corresponderia no Brasil cerca de 40 milhões de pessoas. Se levarmos em consideração nos EEUU e Inglaterra, lá teríamos de 7 a 8 milhões de mortes. No Brasil a mortalidade está em cerca de 1% - (isto aqui está subnotificado, não está? Senão o índice seria de 10%, o que seria inaceitável!). O índice de resistência ao antiviral é baixo. Qual o risco maior que temos: ter mais pessoas apresentando resistência ou deixar um monte de gente morrer por não dar o medicamento? A outra perspectiva é: "Não há medicamento suficiente para distribuir à população", o que esta relativamente claro para as zonas mais periféricas. O que também vai acontecer com a vacina, porque não vai ter pra todo mundo. Vamos ser honestos: Tem remédio para todo mundo? NÃO! Então vamos usar só para os casos com sintomatologia grave. O médico fica numa situação complicada.... se fosse eu o doente, ah! eu iria apertar o médico, eu diria: "ô doutor, tenha paciência, eu quero o remédio!". Temos informação de que, em alguns estados fronteiriços com outros países, os secretários de saúde estão comprando medicamento lá fora e trazendo pra cá; e talvez seja esse o motivo pelo qual baixou muuuuito a mortalidade em alguns estados. Em medicina, existe a mentira caridosa: o indivíduo está morrendo, a gente diz: "Não, vamos tratar, você vai melhorar"..... Mas, numa situação dessas, quem tem filho, parente, não quer saber, aperta o médico, e o médico vai ser colocado contra a parede. As Autoridades precisam declarar: NÃO TEMOS MEDICAMENTOS PARA TODOS. Esse foi um teste para nosso sistema de saúde, que está sendo precarizado não sei há quantos anos. Em qualquer outro país você vai lá com a receita médica na farmácia e compra! Qual é o problema? Por que essa prioridade "apenas para o governo"? O governo não é bom pra minha saúde, quem cuida da minha saúde sou eu, o profissional que me cuida e minha família! Daqui a pouco vocês vão me chegar aqui com a Saúdebras, mais uma "BRAS" pra resolver essa questão. A classe médica está numa situação extremamente desconfortável! Eu sou um cirurgião. A experiencia da gente é com paciente grave, com viremia, bacteremia, sepsemia, etc. Se a gente não usar o medicamento que impede a reprodução viral na fase inicial, na fase final não vai conseguir! Isso acontece com a bactéria também, é a mesma coisa... depois que o exército invadiu, não há anti-viral que resolva! Aí encarece, o paciente vai para o respirador.... isso tem que ficar claro pra nós.
Deputado Germano Bonow - Saúde Pública
A questão que o deputado Frejat levantou..... a sensação de quem vem de um estado como o RS, que atravessou um período muito difícil ali - julho e agosto - , é a de que nós tínhamos um imenso exército sem munição, uma infraestrutura de milhares de postos de saúde, e não tínhamos a medicação. Para o ministério, para as autoridades, a medicação chegava e tinha. Mas para o cidadão da ponta, pro doutor do posto de saúde, que atende às seis horas da tarde, o paciente que chega ali, de ônibus, adoeceu de manhã, vai pra farmácia distrital, que vai estar fechada, às oito da noite... que não tem dinheiro pra voltar no dia seguinte... e quando vai tomar já passaram doze, vinte e quatro horas... estamos diante de uma doença aguda, não temos como controlar isso em termos de país! Testemunhei aqui a distribuição de 400 mil tratamentos aproximadamente, para 50.000 serviços de saúde. Isso dá 8 tratamentos por posto de saúde! Questão-chave: as autoridades, nós, do Ministério da Saúde, não tínhamos a vivência de um vírus como esse, o que não nos tira o direito de ignorar a nossa cultura. Qual é a nossa cultura? Um país que tem milhares de farmácias, milhares de centros de saúde, distribuir centralmente.... você tem ali na sua frente um caso suspeito....preenche a ficha? não preenche a ficha? tem remédio suficiente? Não tem suficiente? Se tem suficiente, põe na rede!!! Igual psicotrópico, tem que preencher o formulário, qual o problema? Se vem uma segunda onda, temos que começar a nos prevenir em relação a isso... No meu estado o pessoal compra no Uruguai e o medicamento vem por ônibus! Livramento Rivera, é só atravessar a rua! A questão do medicamento é um DRAMA pra quem está na linha de frente do sistema de saúde, dessas regiões que foram mais atingidas... O que não nos tranquiliza em relação ao centro do país.
Quem nos garante que a segunda onda virá no inverno que vem? Consta na literatura que Rodrigues Alves morreu na segunda onda, em Janeiro de 1919, ou seja, no verão. Essa questão da vacina preocupa muito. Não sabemos se será eficaz, em que número ela haverá, se o ministério já buscou a possibilidade de comprar vacina em outros países.... a Novartis está com três plantas em diversos países, para fabricar a vacina. Parabéns a todos os expositores, enriqueceram muito, Dr. Alberi de Passo Fundo, quando Passo Fundo se antecipou e começou a tratar já nas 48 horas, paciente de risco ou não, parabéns!
Deputado Alceni Guerra (ex-ministro da Saúde)
Espero falar com a suavidade de um pediatra (risos) 30% da seguridade social, esse era um acordo entre todos os constituintes, e ali estavam 3 futuros presidentes da república: Itamar Franco, FHC, e Lula. E fizemos esse acordo, de 30% da seguridade, que constou das disposições transitórias da nossa Constituição. Acho que isso tem que ser levantado até o fim, o Sistema de Saúde NÃO FUNCIONARÁ sem o aporte desses 30% da Seguridade. Vou tomar o cuidado de ser suave porque já vivi na pele o que é levar crítica sendo ministro de epidemias. Pela vacinação secreta dos ianomanis, no interior da Amazônia, porque entre eles havia a febre amarela. Fiz em segredo porque os ianomanis eram uma espécie de ícone da brasilidade, e haveria muita oposição mundial. Isso me valeu a proposta, por parte do CFM, da cassação do meu registro. Na Bolívia fiz a mesma coisa e recebi a maior condecoração que o governo boliviano dá a um estrangeiro; e vacinei não por amor à Bolívia, mas por amor ao Brasil, pelo medo da febre chegar ao Brasil pelo comboio de trem, que vinha da Bolívia. Num país ganhei a maior medalha e noutro o pedido de cassação. É difícil criticar uma autoridade, mas eu gostaria de fazer algumas considerações:
Acho que demoramos muito tempo com o tamiflu estocado na Fiocruz; a descentralização depois também não foi adequada, Dr. Hage. No final de julho estive na Argentina, na fronteira, em Barracão, e encontrei a seguinte situação: tamiflu à vontade do outro lado da fronteira, (do outro lado da rua) e no Paraná apenas em Francisco Beltrão, a 100 kms de distância de Barracão. E observei o caso de uma mulher sob suspeita de
H1N1 em estado grave; pediram a Francisco Beltrão, dois dias depois o remédio foi negado. Ela já tinha atravessado a rua, ou o seu marido, e comprado o remédio na Argentina! Em Sta. Catarina tinha tamiflu, município de Dionísio Cerqueira. Comuniquei ao Secretário, espero que tenha resolvido isso. Recebi algumas observações de meus colegas médicos: são vinte suspeitas de gripe diárias aqui na Câmara; 5 profissionais médicos já se infectaram; a Câmara pediu o tamiflu ao Ministério, foi negado e fomos ridicularizados a nível de Brasil. Só pra nós? Também não estou de acordo. Acho que todas as unidades de saúde deveriam ter o tamiflu, e há estoque suficiente para que isso aconteça. A receita é que é da responsabilidade do profissional médico. Temos que ter uma política agressiva no enfrentamento dessa doença, precisamos inovar, disseminar, distribuir o tamiflu pra todas as unidades de saúde, temos 900 milhões de doses? Vamos distribuir!!! Nenhum médico deixará de assumir a responsabilidade de receitar o remédio, e quando não, ele estará em estoque. Acho que precisamos ser mais agressivos na distribuição do tamiflu. Quanto à vacina, acho que estamos sendo tímidos, é preciso dar-lhe os recursos já! Não é suficiente? Vamos comprar no mercado internacional. Temos que comprar vacina para a população toda. A gripe espanhola matou, no verão, um Presidente da República. É elogiável o trabalho do Ministério na parte da vigilância, mas precisamos deixar de lado nossa timidez. Continuo com a preocupação, da falta do tamiflu nas fronteiras. O médico só dará a receita para quem estiver com os sintomas da doença.
DEBATES - CINCO MINUTOS PARA CADA DEBATEDOR:
José Lucio dos Santos:
O que estou assistindo como médico é exatamente o que foi dito aqui: uma extrema dificuldade em conseguir acesso ao tamiflu, talvez o gestor não esteja entendendo o que está acontecendo com o médico lá na ponta. Faça uma pesquisa com os médicos lá na frente e pergunte se eles estão à vontade para receitar o tamiflu. Ou temos remédio insuficiente ou temos suficiente mas temos falhas na distribuição. Eu queria perguntar, como ex-membro do conselho regional: porque remédio pra mim só deveria ser dispensado sob prescrição médica! Por que não lançamos o desafio de deixarmos em aberto o tamiflu em farmácias, postos médicos, etc, mas só sob prescrição médica?
O primeiro a falar é o Juvêncio: (Dr. Juvência Furtado)
Temos que pensar como continuar esse enfrentamento, tentando corrigir nossos eventuais erros. Nós todos não temos dúvidas de que a medicação deve ser disponibilizada, contra receita médica, desde que seja prescrito e que tenha indicação. Muitas vezes as farmácias não respeitam as prescrições, é preciso mais controle por parte das autoridades; o medicamento tem que ser usado com precocidade.
A maneira como isso será feito, se em todas as farmácias, apenas nas redes públicas capilarizado nos postos de saúde, mas o medicamento precisa estar disponível para utilização.
Em relação ao enfrentamento do próximo ano: esse vírus continua circulando, está presente, está causando doença; portanto, não tenho nenhum receio em dizer que continuaremos com o vírus circulando. Uma arma nova é a vacina, que é o ideal, desde a disponibilização que o mercado mundial permita, dentro da disponibilidade do Instituto Butantã, para que tenhamos o maior número possível de vacinas, para vacinar o maior número de pessoas. Estratégias dependendo do número de vacinas que tenhamos. Investimentos que tem que ser feito agora: leitos hospitalares para atender os casos graves e leitos de UTI; e os profissionais intensivistas tem que estar preparados para enfrentar, porque é diferente do que eles conhecem. Outra medida de medida mais clara a ser discutida: fechamento de escolas, indústrias, etc. Convém fechar e não reabrir.
Dr. ALBERI GRANDO
Eu vejo que o tratamento dessa síndrome foi sim uma novidade. Como foi dito, nós aprendemos a trocar o pneu do carro com ele andando. Não só a população preocupada com as informações, mas os profissionais tb. Mas se aprendeu bastante, foi um aprendizado interessante e bom pela formação desse Comitê Municipal, congregando pessoas que conheciam o asssunto e tinham conhecimento do que estava acontecendo. A primeira reunião com nossos profissionais da rede era um susto só, ninguém mais estava querendo atender. Eu tive que dar plantão, porque ninguém mais queria ir, com medo.... eu tinha medo também, mas tive que ir! (risos) Passo Fundo se antecipou: O paciente que chegasse, não que não se seguisse o protocolo, mas naquele momento, diante do paciente, eu tinha que tomar uma decisão. Isso que Passo Fundo fez: o médico decidia, o Código de Ética o obriga a fazer isso. Nunca faltou medicamento em Passo Fundo, preenchia-se a ficha e a farmácia dispensava o medicamento, embora houvesse ali o "Sim" ou "Não", não houve nenhuma negativa. Os próprios hospitais tomaram a decisão de fazer a ampliação dos leitos, iniciativa do próprio hospital ao ver a necessidade de sua capacidade ampliada, com o apoio da Secretaria. Tres coisas que faziam com que a população se acalmasse: ter o medicamento, ter o exame e a perspectiva de disponibilidade de vacina futuramente. Mesmo como profissional da saúde eu me assustava quando via a população mais assustada ainda. Precisa ter esses três pontos que eu mencionei.
DR. CELSO RAMOS
Bom, eu só queria dizer o seguinte: uma coisa é o que está escrito, outra coisa um pouquinho diferente é o que é feito. Vou começar pelas normas do Ministério da Saúde em relação ao uso clínico: Dr. Eduardo, elas não são idênticas às do CDC, EU COMO O MEU DIPLOMA DE MÉDICO EM PÚBLICO se o senhor me afiançar que as regras do CDC, no que tange à quimioprofilaxia, são iguais às do Ministério da Saúde. Outra coisa é: as indicações podem ser as mesmas... a ÊNFASE, na prática, pode ser outra. O Hospital do Fundão, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, onde eu trabalho, era hospital de referência, onde os primeiros casos confirmados foram internados. O médico especialista examinava o caso, decidia que tinha indicação de uso, era obrigado a pegar o telefone, ligar para o nível central e conseguir autorização para usar o medicamento. Eu pergunto a V.Exa. deputado Bonow, como sanitarista, se isso é aceitável, a V. Exa. Deputado Elêusis, como líder que é, inconteste, da categoria médica, SE ISSO NÃO É UMA ABSOLUTA AGRESSÃO CONTRA A PRERROGATIVA DO MÉDICO DE FAZER
A PRESCRIÇÃO. E, no entanto, estava lá, como é que a coisa tinha que ser feita. Então, Dr. Eduardo, a coisa não era bem assim, porque a restrição vinha, pelo outro lado. Então, em agosto, houve uma reunião aqui, na qual a bancada do Rio de Janeiro batalhou e propugnou por uma maior liberação do uso (estavam aqui a Dra. Margareth del Como e a Dra. Marisa Silva Santos, assessora específica do Estado do RJ, pra citar duas...). Foi quando se fez a mudança do protocolo. O que deveria estar na lei, se existisse a Lei do Ato Médico: foi quando colocamos o formulário na Internet, e passou a depender tudo do médico. Então o que aconteceu? No Rio a medicação ficou mais fácil. Não sou infectologista, mas quanto a clínica e tratamento, eu me sinto qualificado. O coeficiente de mortalidade do RJ é um dos mais baixos... O RJ, me desculpe a ironia, tem uma excelente rede que explique essa baixa mortalidade?
Quanto ao teste RC-PCR - O CDC liberou mais de 600 laboratórios no mundo, inclusive daqui. O que vou dizer, vou dizer sem citar nomes: um laboratório privado do Brasil desenvolveu o teste RC-PCR 'in-house'; isso feito, o teste foi validado em São Paulo, no Adolpho Lutz, o laboratório resolveu usar esse teste no RJ, eu me reservo uma certa confidencialidade nisso; aí o laboratório fez uma solicitação à ANVISA, - desnecessária, pq não se tratava de um kit -; a ANVISA consultou a FIOCRUZ, que respondeu que não: que no RJ só quem faria o teste era ela. Eu pergunto a V.Exa. Ministro Alceni, se isso não implica alguma restrição, AINDA QUE ISSO NÃO ESTEJA ESCRITO EM LUGAR ALGUM. Então, uma coisa é o que está escrito, outra coisa é o que está sendo feito. Eu assisti, aqui nessa casa há umas semanas atrás, o Ministro Temporão dizendo que "Não, não havia restrição para venda em farmácia, até porque não poderia haver!", e, em seguida, afirmar que, enquanto durasse a situação, o MS continuaria comprando TODA A PRODUÇÃO DO LABORATÓRIO ROCHE, quando passou a enumerar as vantagens de que o medicamento não estivesse à venda. Então, o que acontece é isso: uma coisa é o que está escrito, outra coisa é a situação concreta.
Muito obrigado!
Dispensação do Tamiflu, 03/09/2009, 9:30 hs
(Eu recomendo a todos a audição da discussão em sua íntegra. Tentei anotar os tópicos principais. A audiência completa está no endereço:
http://imagem.camara.gov.br/internet/audio/Resultado.asp?txtCodigo=00015167
(selecionar trechos de 1/2 hora)
Convidados ao Evento:
Dr. Juvêncio Furtado, Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia
Dr. Alberi Grando, Secretário Municipal de Saúde de Passo Fundo, RS
Dr. Celso Ramos, Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do RJ
Dr. José Lúcio dos Santos, Superintendente da Vigilância de Saúde Paraná
Dr. Eduardo Hage, Diretor de Vigilância Epidemiológica da SVE do M.Saúde
Dr. Juvêncio Furtado: (Soc. Bras. Infectologia)
[...] A dispensação mais ampla do tamiflu, embora sem a capilaridade esperada, mudou a gravidade da doença: isso vem comprovar o seguinte fato: um tratamento mais precoce significa diminuição nos números de casos graves. O que fazer a partir de
agora? Vem aí a segunda onda mundial, a uma taxa de ataque prevista para atingir de 20 a 30% da população. O H1N1 já é predominante no Brasil. A maior questão é como esse medicamento, única arma disponível no Brasil, poderá ser ampliada?
Para o próximo ano, a grande arma será a vacina, para a qual deverão ainda ser estabelecidas as prioridades. Quantas doses o MS irá disponibilizar?
Quanto ao Zanamivir, está dependente de aprovação do Ministério, por enquanto só temos o Oseltamivir.
Também precisamos de um maior número de leitos UTI para os casos graves.
Dr. ALBERI BRANDO, Secretário da Saúde de Passo Fundo, RS
Passo Fundo tem uma história que deve ser contada. O que fizemos em Passo Fundo?
Pra quem não conhece, fica no norte do Estado, fronteira com Uruguai e Argentina, na cabecinha do "S". P.F. tem 180 mil habitantes e é uma cidade-referência em medicina, além de termos os eventos "Jornada de Literatura", o Festival Internacional do Folclore, entre outros. Temos o maior centro médico do RS, com padrões de excelência em medicina.
Nossos hospitais:
Hospital São Vicente de Paula, com 590 leitos;
Hospital da Cidade, com 188 leitos.
Hospital Municipal, com 92 leitos e ainda temos
1 Hospital privado, com 90 leitos.
Nossa Secretaria da Saúde tem 1.100 servidores, e temos aqui 4 distritos sanitários.
Temos 6 grandes Unidades de Saúde, que prestam mensalmente 20.000 atendimentos médicos e cerca de 36.000 atendimentos de enfermaria.
Nosso problema começou no dia 28/6, com a morte de um caminhoneiro de Erechim. No dia 8 de Julho, um comerciante, dono de uma lancheria, veio a falecer, sem ter nenhuma estória de viagem. Alí já se pensou em vírus endógeno. Em 10/7 morreu um garçom, que tb não tinha viajado pra lugar nenhum. Fomos em busca de dados: até o dia 21/8, havia ocorrido 22 mortes.
Criamos um Comitê Municipal da Gripe A no dia 17/7; a constituição desse Comitê foi o que fez com que as coisas dessem certo. Como passar as informações, não apenas para o público, mas também para os médicos? Cancelamos eventos, em que pese a grande pressão que sofremos para que não o fizéssemos. Foi cancelada a Jornada de Literatura, que iria reunir mais de 20.000 pessoas(foi transferida para Outubro); o Comitê capacitou os profissionais que iriam atender na rede, e dentro dos hospitais. Para o tamiflu, criamos uma ficha de referência, que era preenchida pelo médico e com ela o encarregado se dirigia à Farmácia Municipal para retirar o tamiflu. Assim, os pacientes começaram a ser atendidos precocemente. Veio a notícia de que Passo Fundo estaria desobedecendo o Protocolo do MS, mas a coisa não é bem assim. Tínhamos muitos pacientes hospitalizados, com casos graves, precisando de tratamento. Além disso, nosso Código de Ética estabelece em seus artigos:
Artigo 16): Nenhum dispositivo regimental poderá limitar a escolha, por parte do médico, dos meios a serem postos em prática para benefício do paciente;
Artigo 57) É vedado ao médico deixar de utilizar todos os meios disponíveis de tratamento a seu alcance, em favor do paciente.
Ou seja, o médico tem OBRIGAÇÃO de fazer uso de tudo quanto seja necessário em prol do paciente.
A Farmácia Municipal dispensou 160 tratamentos de 75 mg, e 8 suspensões;
O Hospital São Vicente de Paula efetuou 179 atendimentos, ministrando 115 tratamentos 75mg e 16 suspensões; o Hospital da Cidade (Pronto-Clínica) atendeu 96 pacientes com sintomas, ministrando 72 caixas Tamiflu 75mg e 2 suspensões.
Nosso critério para medicar: se o paciente apresentava tosse que não cedia com remédio nenhum, febre que não baixava com medicamento, dispnéia e mialgia (entre outros), já havia indicação para se administrar o tamiflu. Os pacientes graves eram encaminhados para a UTI, quando necessário.
Em Passo Fundo morreram 22 pessoas (11 homens e 11 mulheres),
Casos com Cura (comprovadamente de portadores do Vírus H1N1): 21 mulheres e 10 homens.
(ele dá outros dados, quem se interessar poderá ouvir a gravação em:
http://imagem.camara.gov.br/internet/audio/Resultado.asp?txtCodigo=00015167
Dr. Celso Ramos, Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do RJ
"O Brasil sempre subestimou a gripe. O assunto gripe nunca é suficientemente ventilado, nem nas faculdades. A vigilância epidemiológica da gripe é muito difícil de ser feita. A resposta internacional deve adotar a perspectiva da iminência de uma pandemia. Em 1983 tivemos o Corona Vírus, com muitos casos de SRAG. O Regulamento Sanitário Internacional tinha essa visão, mas houve hesitação em declarar a pandemia, e depois a doença não se apresentava com a gravidade esperada.
Há 3 pontos que foram falhos no Brasil:
1) Restrição ao acesso a exames - só 3 laboratórios no início podiam fazer o exame, agora me parece que houve a liberação para mais 3 ( PR, RS e MG); quanto ao teste RT-PCR, muitos laboratórios estão sendo impedidos de fazê-lo;
2) Houve retardo na detecção da transmissão autóctone;
3) A restrição do acesso ao oseltamivir, que funciona com esse sistema emperrado, com o MS disparando medidas que impedem o acesso da medicina privada ao medicamento, quando no RJ 51% da população opta por esse sistema (medicina privada). Foi essa restrição que o governo ocasionou com a compra de todo o estoque do tamiflu, alegando agora NÃO HAVER RESTRIÇÃO à venda, MAS confirmando que vai continuar comprando toda a produção da Roche - o que significa que a situação vai continuar assim.
As 3 justificativas do MS para essa regulação na dispensação do tamiflu no Brasil NÃO SE SUSTENTAM; o Ministério diz que o nosso protocolo está conforme às recomendações da OMS, mas existem diferenças na facilidade ou dificuldade no acesso ao remédio.
Por exemplo: o protocolo de 20/8 da OMS fala em DEVER de medicar as crianças abaixo dos 5 anos de idade, os adultos acima de 65, os asilados, os imunossuprimidos, as gestantes. Quanto aos indivíduos saudáveis de qualquer idade a OMS não diz que eles NÃO DEVEM ser medicados, e sim que NÃO NECESSITAM. Pode medicar, não há contra-indicação, apenas não é necessário, mas se quiser medicar, tudo bem! Quanto a doentes graves: tratar assim que possível, com dose aumentada de remédio e com prazo dilatado de fornecimento do remédio. TODOS tem que ser tratados, as crianças abaixo de 5 anos e as grávidas também. O texto é muito claro.
As primeiras recomendações do Ministério da Saúde diziam que crianças abaixo de um (ou dois anos de idade, não tenho certeza) NÃO deveriam ser medicadas; quanto às gestantes, faziam sempre observações incômodas - depois recuaram. "Cuidado!", diziam, afirmando que o médico deveria responsabilizar-se pelo tratamento - como se alguma vez o médico não fosse responsável pelo tratamento que prescreve!!! Paciente com doença não complicada NÃO NECESSITA, o que NÃO é a mesma coisa do que se dizer que NÃO DEVE. TODOS podem ser tratados, não há contra-indicação ao tratamento!
Quanto à Resistência: Em primeiro lugar, pelos dados da OMS essa não é considerada um doença comum ou igual à gripe sazonal, como vocês ventilaram. Até o presente momento, 12 casos vinculados a resistência ao antiviral foram detectados, casos na maior parte vinculados a doses profiláticas, sub-terapêuticas, porém casos isolados, sem conexão epidemiológica. Não é novidade, aparecer um vírus resistente ao remédio e ele permanecer no âmbito daquele doente, ao terceiro dia ele desaparece (o vírus). Talvez as autoridades tenham se preocupado com o surgimento, na Áustria, do H1N1 endêmico, resistente ao Oseltamivir. Em seguida apareceu resistência nos EEUU, resistência do vírus SAZONAL ao oseltamivir, resistência de 99,5%. Meu Deus, o que aconteceu? Nada de especial, é assim mesmo, o H3N2, que circula JUNTO com esse outro vírus, apresentou resistência ao antiviral de 0%.
No Brasil sabemos de apenas 18 isolados virais, com 4 amostras com resistência ao H1N1 ENDÊMICO.
NÃO POSSO DEIXAR DE USAR UMA DROGA QUANDO ELA É INDICADA PARA GUARDÁ-LA COMO RESERVA ESTRATÉGICA PARA ALGUM MOMENTO QUE NÃO SEI QUAL SEJA.
O terceiro argumento do MS, para cuidado na administração do tamiflu, seriam os EFEITOS COLATERAIS.
Quero dizer aqui que o tamiflu NÃO É um remédio conhecido por ter fortes efeitos colaterais, senão vejamos (aqui ele aqui faz uma análise comparativa entre os principais efeitos colaterais, que são: cefaléia, náusea, diarréia, dor de cabeça e vômitos, comparando quem tomou o sal com quem tomou o placebo: diferenças ínfimas, sendo que, no caso de diarréia, os que tomaram o placebo tiveram índices superiores de ocorrência de diarréia do que os que tomaram o sal).
Com isso, com essa restrição - que o MS diz que não existe, mas que na prática existe - o MS diz que está impedindo o brasileiro de fazer auto-medicação. NO ENTANTO, o Ministério da Saúde permite a venda livre, sem controle e sem prescrição médica, de antibióticos, corticosteróides, anti-inflamatórios, antidiabéticos e
MUITOS OUTROS MEDICAMENTOS COM EFEITOS COLATERAIS MUITO MAIS SÉRIOS E CONHECIDOS.
Num outro diapositivo o Dr. Celso Ramos demonstra quão baixa é a incidência de efeitos colaterais do tamiflu. Num outro, mostra a Roche alertando contra a sua compra via Internet, a preços muito mais elevados.
ELEUSIS PAIVA, autor do requerimento
Primeiro eu queria falar brevemente a honra de estar aqui com dois brilhantes secretários da Saúde, Dr. Bonow e Dr. Jofran, com quem aprendi muito, e nosso eterno Ministro da Saúde, Dr. Alceni Guerra.
Eu fui o autor do requerimento mas represento a todos os senhores com quem em conversas particulares expressaram preocupação com o momento que estamos vivendo, e não quero falar como deputado, quero eximir o ato de gesto político, falo muito mais como médico, então somos do PS, o Partido da Saúde, sem qq outra relação político-partidária. Agradecer muito ao Dr. Juvêncio da S.B. de Infectologia, e elogiar Passo Fundo que tomou medida extremamente ousada e que tem dados que enriquecem muito. Quanto à dispensação do tamiflu, todos nós temos recebido demais em nossos e-mail reclamações quanto à dificuldade de obtenção do tamiflu. Almocei com 4 prefeitos que inclusive estão sem estoque de Tamiflu. Não há capilaridade para as cidades de pequeno porte. Na Câmara vemos a presença do tamiflu no mercado paralelo. Só existe mercado paralelo quando há falta de medicamento. Secretário fez ofício solicitando tamiflu para o serviço médico da casa. Houve muita revolta na população, o que leva a apenas uma conclusão: se se revoltam é porque eles não tem, se tivessem não se revoltariam, portanto a sociedade não está se sentindo contemplada com a dispensação. Conversando com o Celso e o Juvêncio, que são referências pra nós de especialidade, estamos vivendo dois momentos: 1) diminuição de casos, possivelmente diminuição do ciclo, e há outro grupo que coloca que o segundo ciclo possa vir do hemisfério norte por estarem no inverno lá, precisamos de estratégias para desenvolver tanto para um lado como para outro. Quanto ao futuro, a maior preocupação, é saber como vai ser a lógica para a vacinação que não estará disponível para tantos. A novidade é o adulto jovem, um fato novo que pode fazer com que se mude a estratégia. Perguntar ao ministério como vai ser a dispensação, precisamos de um avanço em relação ao que já se fez. Outra grande preocupação é quanto à infra-estrutura hospitalar, nós não temos UTIs na ausência da epidemia, temos a saúde sub-financiada nesse país, ou assumimos isso e conseguimos recursos suplementares; o financiamento do INAMPS era 30% da Seguridade Social (a nível federal) seriam 120 bilhões; o governo federal coloca 55 bilhões na Saúde, menos da metade, isso tem que ser aberto pra população; precisamos modificar a política de financiamento à Saúde Pública nesse país. O Celso já está querendo fazer uma pergunta.....
DEPUTADO JOFRAN FREJAT
Com esses dados que você apresentou, Deputado Eleusis, eu estava naquela época, precisamos entender que deveremos tratar a doença pela metade tb (risos).... a OMS fez uma colocação de que aprox. 30% da população seria afetada pelo H1N1, o que corresponderia no Brasil cerca de 40 milhões de pessoas. Se levarmos em consideração nos EEUU e Inglaterra, lá teríamos de 7 a 8 milhões de mortes. No Brasil a mortalidade está em cerca de 1% - (isto aqui está subnotificado, não está? Senão o índice seria de 10%, o que seria inaceitável!). O índice de resistência ao antiviral é baixo. Qual o risco maior que temos: ter mais pessoas apresentando resistência ou deixar um monte de gente morrer por não dar o medicamento? A outra perspectiva é: "Não há medicamento suficiente para distribuir à população", o que esta relativamente claro para as zonas mais periféricas. O que também vai acontecer com a vacina, porque não vai ter pra todo mundo. Vamos ser honestos: Tem remédio para todo mundo? NÃO! Então vamos usar só para os casos com sintomatologia grave. O médico fica numa situação complicada.... se fosse eu o doente, ah! eu iria apertar o médico, eu diria: "ô doutor, tenha paciência, eu quero o remédio!". Temos informação de que, em alguns estados fronteiriços com outros países, os secretários de saúde estão comprando medicamento lá fora e trazendo pra cá; e talvez seja esse o motivo pelo qual baixou muuuuito a mortalidade em alguns estados. Em medicina, existe a mentira caridosa: o indivíduo está morrendo, a gente diz: "Não, vamos tratar, você vai melhorar"..... Mas, numa situação dessas, quem tem filho, parente, não quer saber, aperta o médico, e o médico vai ser colocado contra a parede. As Autoridades precisam declarar: NÃO TEMOS MEDICAMENTOS PARA TODOS. Esse foi um teste para nosso sistema de saúde, que está sendo precarizado não sei há quantos anos. Em qualquer outro país você vai lá com a receita médica na farmácia e compra! Qual é o problema? Por que essa prioridade "apenas para o governo"? O governo não é bom pra minha saúde, quem cuida da minha saúde sou eu, o profissional que me cuida e minha família! Daqui a pouco vocês vão me chegar aqui com a Saúdebras, mais uma "BRAS" pra resolver essa questão. A classe médica está numa situação extremamente desconfortável! Eu sou um cirurgião. A experiencia da gente é com paciente grave, com viremia, bacteremia, sepsemia, etc. Se a gente não usar o medicamento que impede a reprodução viral na fase inicial, na fase final não vai conseguir! Isso acontece com a bactéria também, é a mesma coisa... depois que o exército invadiu, não há anti-viral que resolva! Aí encarece, o paciente vai para o respirador.... isso tem que ficar claro pra nós.
Deputado Germano Bonow - Saúde Pública
A questão que o deputado Frejat levantou..... a sensação de quem vem de um estado como o RS, que atravessou um período muito difícil ali - julho e agosto - , é a de que nós tínhamos um imenso exército sem munição, uma infraestrutura de milhares de postos de saúde, e não tínhamos a medicação. Para o ministério, para as autoridades, a medicação chegava e tinha. Mas para o cidadão da ponta, pro doutor do posto de saúde, que atende às seis horas da tarde, o paciente que chega ali, de ônibus, adoeceu de manhã, vai pra farmácia distrital, que vai estar fechada, às oito da noite... que não tem dinheiro pra voltar no dia seguinte... e quando vai tomar já passaram doze, vinte e quatro horas... estamos diante de uma doença aguda, não temos como controlar isso em termos de país! Testemunhei aqui a distribuição de 400 mil tratamentos aproximadamente, para 50.000 serviços de saúde. Isso dá 8 tratamentos por posto de saúde! Questão-chave: as autoridades, nós, do Ministério da Saúde, não tínhamos a vivência de um vírus como esse, o que não nos tira o direito de ignorar a nossa cultura. Qual é a nossa cultura? Um país que tem milhares de farmácias, milhares de centros de saúde, distribuir centralmente.... você tem ali na sua frente um caso suspeito....preenche a ficha? não preenche a ficha? tem remédio suficiente? Não tem suficiente? Se tem suficiente, põe na rede!!! Igual psicotrópico, tem que preencher o formulário, qual o problema? Se vem uma segunda onda, temos que começar a nos prevenir em relação a isso... No meu estado o pessoal compra no Uruguai e o medicamento vem por ônibus! Livramento Rivera, é só atravessar a rua! A questão do medicamento é um DRAMA pra quem está na linha de frente do sistema de saúde, dessas regiões que foram mais atingidas... O que não nos tranquiliza em relação ao centro do país.
Quem nos garante que a segunda onda virá no inverno que vem? Consta na literatura que Rodrigues Alves morreu na segunda onda, em Janeiro de 1919, ou seja, no verão. Essa questão da vacina preocupa muito. Não sabemos se será eficaz, em que número ela haverá, se o ministério já buscou a possibilidade de comprar vacina em outros países.... a Novartis está com três plantas em diversos países, para fabricar a vacina. Parabéns a todos os expositores, enriqueceram muito, Dr. Alberi de Passo Fundo, quando Passo Fundo se antecipou e começou a tratar já nas 48 horas, paciente de risco ou não, parabéns!
Deputado Alceni Guerra (ex-ministro da Saúde)
Espero falar com a suavidade de um pediatra (risos) 30% da seguridade social, esse era um acordo entre todos os constituintes, e ali estavam 3 futuros presidentes da república: Itamar Franco, FHC, e Lula. E fizemos esse acordo, de 30% da seguridade, que constou das disposições transitórias da nossa Constituição. Acho que isso tem que ser levantado até o fim, o Sistema de Saúde NÃO FUNCIONARÁ sem o aporte desses 30% da Seguridade. Vou tomar o cuidado de ser suave porque já vivi na pele o que é levar crítica sendo ministro de epidemias. Pela vacinação secreta dos ianomanis, no interior da Amazônia, porque entre eles havia a febre amarela. Fiz em segredo porque os ianomanis eram uma espécie de ícone da brasilidade, e haveria muita oposição mundial. Isso me valeu a proposta, por parte do CFM, da cassação do meu registro. Na Bolívia fiz a mesma coisa e recebi a maior condecoração que o governo boliviano dá a um estrangeiro; e vacinei não por amor à Bolívia, mas por amor ao Brasil, pelo medo da febre chegar ao Brasil pelo comboio de trem, que vinha da Bolívia. Num país ganhei a maior medalha e noutro o pedido de cassação. É difícil criticar uma autoridade, mas eu gostaria de fazer algumas considerações:
Acho que demoramos muito tempo com o tamiflu estocado na Fiocruz; a descentralização depois também não foi adequada, Dr. Hage. No final de julho estive na Argentina, na fronteira, em Barracão, e encontrei a seguinte situação: tamiflu à vontade do outro lado da fronteira, (do outro lado da rua) e no Paraná apenas em Francisco Beltrão, a 100 kms de distância de Barracão. E observei o caso de uma mulher sob suspeita de
H1N1 em estado grave; pediram a Francisco Beltrão, dois dias depois o remédio foi negado. Ela já tinha atravessado a rua, ou o seu marido, e comprado o remédio na Argentina! Em Sta. Catarina tinha tamiflu, município de Dionísio Cerqueira. Comuniquei ao Secretário, espero que tenha resolvido isso. Recebi algumas observações de meus colegas médicos: são vinte suspeitas de gripe diárias aqui na Câmara; 5 profissionais médicos já se infectaram; a Câmara pediu o tamiflu ao Ministério, foi negado e fomos ridicularizados a nível de Brasil. Só pra nós? Também não estou de acordo. Acho que todas as unidades de saúde deveriam ter o tamiflu, e há estoque suficiente para que isso aconteça. A receita é que é da responsabilidade do profissional médico. Temos que ter uma política agressiva no enfrentamento dessa doença, precisamos inovar, disseminar, distribuir o tamiflu pra todas as unidades de saúde, temos 900 milhões de doses? Vamos distribuir!!! Nenhum médico deixará de assumir a responsabilidade de receitar o remédio, e quando não, ele estará em estoque. Acho que precisamos ser mais agressivos na distribuição do tamiflu. Quanto à vacina, acho que estamos sendo tímidos, é preciso dar-lhe os recursos já! Não é suficiente? Vamos comprar no mercado internacional. Temos que comprar vacina para a população toda. A gripe espanhola matou, no verão, um Presidente da República. É elogiável o trabalho do Ministério na parte da vigilância, mas precisamos deixar de lado nossa timidez. Continuo com a preocupação, da falta do tamiflu nas fronteiras. O médico só dará a receita para quem estiver com os sintomas da doença.
DEBATES - CINCO MINUTOS PARA CADA DEBATEDOR:
José Lucio dos Santos:
O que estou assistindo como médico é exatamente o que foi dito aqui: uma extrema dificuldade em conseguir acesso ao tamiflu, talvez o gestor não esteja entendendo o que está acontecendo com o médico lá na ponta. Faça uma pesquisa com os médicos lá na frente e pergunte se eles estão à vontade para receitar o tamiflu. Ou temos remédio insuficiente ou temos suficiente mas temos falhas na distribuição. Eu queria perguntar, como ex-membro do conselho regional: porque remédio pra mim só deveria ser dispensado sob prescrição médica! Por que não lançamos o desafio de deixarmos em aberto o tamiflu em farmácias, postos médicos, etc, mas só sob prescrição médica?
O primeiro a falar é o Juvêncio: (Dr. Juvência Furtado)
Temos que pensar como continuar esse enfrentamento, tentando corrigir nossos eventuais erros. Nós todos não temos dúvidas de que a medicação deve ser disponibilizada, contra receita médica, desde que seja prescrito e que tenha indicação. Muitas vezes as farmácias não respeitam as prescrições, é preciso mais controle por parte das autoridades; o medicamento tem que ser usado com precocidade.
A maneira como isso será feito, se em todas as farmácias, apenas nas redes públicas capilarizado nos postos de saúde, mas o medicamento precisa estar disponível para utilização.
Em relação ao enfrentamento do próximo ano: esse vírus continua circulando, está presente, está causando doença; portanto, não tenho nenhum receio em dizer que continuaremos com o vírus circulando. Uma arma nova é a vacina, que é o ideal, desde a disponibilização que o mercado mundial permita, dentro da disponibilidade do Instituto Butantã, para que tenhamos o maior número possível de vacinas, para vacinar o maior número de pessoas. Estratégias dependendo do número de vacinas que tenhamos. Investimentos que tem que ser feito agora: leitos hospitalares para atender os casos graves e leitos de UTI; e os profissionais intensivistas tem que estar preparados para enfrentar, porque é diferente do que eles conhecem. Outra medida de medida mais clara a ser discutida: fechamento de escolas, indústrias, etc. Convém fechar e não reabrir.
Dr. ALBERI GRANDO
Eu vejo que o tratamento dessa síndrome foi sim uma novidade. Como foi dito, nós aprendemos a trocar o pneu do carro com ele andando. Não só a população preocupada com as informações, mas os profissionais tb. Mas se aprendeu bastante, foi um aprendizado interessante e bom pela formação desse Comitê Municipal, congregando pessoas que conheciam o asssunto e tinham conhecimento do que estava acontecendo. A primeira reunião com nossos profissionais da rede era um susto só, ninguém mais estava querendo atender. Eu tive que dar plantão, porque ninguém mais queria ir, com medo.... eu tinha medo também, mas tive que ir! (risos) Passo Fundo se antecipou: O paciente que chegasse, não que não se seguisse o protocolo, mas naquele momento, diante do paciente, eu tinha que tomar uma decisão. Isso que Passo Fundo fez: o médico decidia, o Código de Ética o obriga a fazer isso. Nunca faltou medicamento em Passo Fundo, preenchia-se a ficha e a farmácia dispensava o medicamento, embora houvesse ali o "Sim" ou "Não", não houve nenhuma negativa. Os próprios hospitais tomaram a decisão de fazer a ampliação dos leitos, iniciativa do próprio hospital ao ver a necessidade de sua capacidade ampliada, com o apoio da Secretaria. Tres coisas que faziam com que a população se acalmasse: ter o medicamento, ter o exame e a perspectiva de disponibilidade de vacina futuramente. Mesmo como profissional da saúde eu me assustava quando via a população mais assustada ainda. Precisa ter esses três pontos que eu mencionei.
DR. CELSO RAMOS
Bom, eu só queria dizer o seguinte: uma coisa é o que está escrito, outra coisa um pouquinho diferente é o que é feito. Vou começar pelas normas do Ministério da Saúde em relação ao uso clínico: Dr. Eduardo, elas não são idênticas às do CDC, EU COMO O MEU DIPLOMA DE MÉDICO EM PÚBLICO se o senhor me afiançar que as regras do CDC, no que tange à quimioprofilaxia, são iguais às do Ministério da Saúde. Outra coisa é: as indicações podem ser as mesmas... a ÊNFASE, na prática, pode ser outra. O Hospital do Fundão, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, onde eu trabalho, era hospital de referência, onde os primeiros casos confirmados foram internados. O médico especialista examinava o caso, decidia que tinha indicação de uso, era obrigado a pegar o telefone, ligar para o nível central e conseguir autorização para usar o medicamento. Eu pergunto a V.Exa. deputado Bonow, como sanitarista, se isso é aceitável, a V. Exa. Deputado Elêusis, como líder que é, inconteste, da categoria médica, SE ISSO NÃO É UMA ABSOLUTA AGRESSÃO CONTRA A PRERROGATIVA DO MÉDICO DE FAZER
A PRESCRIÇÃO. E, no entanto, estava lá, como é que a coisa tinha que ser feita. Então, Dr. Eduardo, a coisa não era bem assim, porque a restrição vinha, pelo outro lado. Então, em agosto, houve uma reunião aqui, na qual a bancada do Rio de Janeiro batalhou e propugnou por uma maior liberação do uso (estavam aqui a Dra. Margareth del Como e a Dra. Marisa Silva Santos, assessora específica do Estado do RJ, pra citar duas...). Foi quando se fez a mudança do protocolo. O que deveria estar na lei, se existisse a Lei do Ato Médico: foi quando colocamos o formulário na Internet, e passou a depender tudo do médico. Então o que aconteceu? No Rio a medicação ficou mais fácil. Não sou infectologista, mas quanto a clínica e tratamento, eu me sinto qualificado. O coeficiente de mortalidade do RJ é um dos mais baixos... O RJ, me desculpe a ironia, tem uma excelente rede que explique essa baixa mortalidade?
Quanto ao teste RC-PCR - O CDC liberou mais de 600 laboratórios no mundo, inclusive daqui. O que vou dizer, vou dizer sem citar nomes: um laboratório privado do Brasil desenvolveu o teste RC-PCR 'in-house'; isso feito, o teste foi validado em São Paulo, no Adolpho Lutz, o laboratório resolveu usar esse teste no RJ, eu me reservo uma certa confidencialidade nisso; aí o laboratório fez uma solicitação à ANVISA, - desnecessária, pq não se tratava de um kit -; a ANVISA consultou a FIOCRUZ, que respondeu que não: que no RJ só quem faria o teste era ela. Eu pergunto a V.Exa. Ministro Alceni, se isso não implica alguma restrição, AINDA QUE ISSO NÃO ESTEJA ESCRITO EM LUGAR ALGUM. Então, uma coisa é o que está escrito, outra coisa é o que está sendo feito. Eu assisti, aqui nessa casa há umas semanas atrás, o Ministro Temporão dizendo que "Não, não havia restrição para venda em farmácia, até porque não poderia haver!", e, em seguida, afirmar que, enquanto durasse a situação, o MS continuaria comprando TODA A PRODUÇÃO DO LABORATÓRIO ROCHE, quando passou a enumerar as vantagens de que o medicamento não estivesse à venda. Então, o que acontece é isso: uma coisa é o que está escrito, outra coisa é a situação concreta.
Muito obrigado!
sábado, 29 de agosto de 2009
O.M.S., Comunicado 9: Preparando-se para uma Nova Onda
PREPARANDO-SE PARA A SEGUNDA ONDA: LIÇÕES DOS ATUAIS SURTOS
Pandemia(H1N1)2009,Comunicado 9 - 28 de AGOSTO 2009/GENEBRA
O monitoramento dos surtos de diferentes partes do mundo fornece informação suficiente para tentarmos tirar algumas conclusões sobre como a pandemia poderá evoluir nos próximos meses.
A OMS está aconselhando os países do hemisfério norte a se preparar para uma segunda onda de surto epidêmico. Países com climas tropicais, onde o vírus pandêmico chegou mais tardiamente do que em todos os outros lugares, também precisam preparar-se para um número crescente de casos.
Países em zonas temperadas do hemisfério sul devem permanecer vigilantes. Como a experiência demonstrou, "zonas quentes" localizadas de crescente transmissão podem continuar a ocorrer, mesmo se a pandemia já tiver atingido seu pico a nível nacional.
H1N1 é agora a cepa virótica dominante
Evidenciou-se dos múltiplos surtos a demonstração de que o vírus pandêmico H1N1 rapidamente estabeleceu-se, sendo agora a cepa dominante na maior parte do mundo. A pandemia irá persistir nos meses vindouros, conforme o vírus continue a movimentar-se através das populações suscetíveis.
Um monitoramento cuidadoso dos vírus por parte da rede de laboratórios da OMS demonstrou que os vírus de todos os surtos permaneceram virtualmente idênticos. Os estudos não detectaram sinais de mutação para a forma de um vírus mais agressivo ou letal.
Do mesmo modo, o retrato clínico da gripe pandêmica é amplamente consistente através de todos os países. A maioria esmagadora dos pacientes continuam a experimentar doença leve. Apesar de o vírus poder causar doença grave e fatal mesmo em pessoas jovens e saudáveis, o número de tais casos permanece pequeno.
Grandes populações suscetíveis à infecção
Mesmo essas tendências sendo encorajadoras, um grande número de pessoas em todos os países permanecem suscetíveis à infecção. Mesmo com o padrão atual que é, no geral, adoecimento leve, o impacto da pandemia durante uma segunda onda poderá piorar conforme um maior número de pessoas sejam infectadas.
Um número crescente de pacientes com doença grave, requerendo terapia intensiva, parece ser o ônus mais premente nos serviços de saúde, criando pressões que poderiam causar muita perturbação às unidades de terapia intensiva e, possivelmente, descontinuar o fornecimento dos cuidados a outras doenças.
O monitoramento da resistência à droga
Até agora, somente um punhado de vírus resistentes ao oseltamivir foi detectado através do mundo, a despeito da administração de muitos milhões de tratamentos com drogas antivirais. Todos esses casos foram extensivamente investigados, e não há instâncias de transmissibilidade inter-humana de vírus resistente documentada até a data. Continuamos com um intenso monitoramento, também através da rede de laboratórios da OMS.
DIFERENTE DO VÍRUS SAZONAL
A evidência atual aponta para algumas diferenças importantes entre padrões de doença reportadas durante a pandemia em relação àqueles que são vistos durante epidemias sazonais de gripe.
Os grupos etários afetados pela pandemia são geralmente mais jovens. Isto é verdadeiro tanto quanto aos mais frequentemente afetados, como especialmente para aqueles que experimentam doença grave ou fatal.
Até o presente, os casos mais graves e as mortes ocorreram em adultos abaixo dos 50 anos, sendo a morte em idosos comparativamente rara. Essa distribuição etária está em forte contraste com a gripe sazonal, na qual por volta de 90% de casos graves e/ou fatais ocorrem em pessoas dos 65 anos adiante.
Falência Respiratória Grave
Talvez o que haja de mais significativo, é que clínicos de todo o mundo estão relatando uma forma muito grave da doença, até mesmo em pessoas jovens e previamente saudáveis, forma que raramente é vista nas infecções da gripe sazonal. Nesses pacientes, o vírus infecta diretamente o pulmão, causando falência respiratória grave. A salvação dessas vidas depende de cuidados altamente especializados e complexos em Unidades de Terapia Intensiva, o que frequentemente exige internações longas e dispendiosas.
Durante a estação do inverno no hemisfério sul, muitos países consideraram a necessidade de tratamento intensivo como o maior ônus imposto aos serviços de saúde. Algumas cidades, nesses locais, reportaram que cerca de 15% dos casos hospitalizados necessitaram de tratamento intensivo.
É PRECISO QUE SE LANCE MÃO DE MEDIDAS PREPARATÓRIAS PARA DAR CONTA DESSA DEMANDA AUMENTADA PARA UTIs, QUE PODERÃO SER SOBRECARREGADAS COM AUMENTOS TORRENCIAIS E SÚBITOS NO NÚMERO DE CASOS GRAVES.
GRUPOS VULNERÁVEIS
O risco aumentado durante a gravidez está agora consistentemente bem-documentado em todos os países. Este risco confere uma importância adicional para um vírus que, como este, tem preferência por infectar os jovens.
Os dados continuam a demonstrar que certas condições médicas aumentam o risco para doença grave e fatal. Tais condições incluem doenças respiratórias, notadamente a asma, doença cardiovascular, diabete e imunossupressão.
Quando forem precaver-se contra o impacto da pandemia, à medida que as pessoas forem se infectando, os órgãos oficiais da saúde precisam estar conscientes de que muitas dessas condições tornaram-se muito mais generalizadas em décadas recentes, aumentando assim o conjunto de pessoas vulneráveis.
A obesidade, que está frequentemente presente em casos graves e fatais, é agora uma epidemia global. A OMS estima que, mundialmente, mais de 230 milhões de pessoas sofrem de asma, e mais de 200 milhões de pessoas têm diabete.
Além do mais, condições tais como a asma e a diabete geralmente não são consideradas doenças fatais, especialmente em crianças e adultos jovens. A morte de jovens nessas condições, precipitadas pela infecção do vírus H1N1, pode ser uma outra dimensão do impacto da pandemia.
Alto risco de hospitalização e morte
Vários estudos anteriores sugerem um alto risco de hospitalização e morte entre certos subgrupos, incluindo grupos minoritários e populações indígenas. Em alguns estudos, o risco nesses grupos é de 4 a 5 vezes maior do que para a população em geral.
Embora as razões não tenham sido completamente compreendidas, as explicações possíveis poderiam incluir baixo padrão de vida e condições gerais de pobreza sanitária, incluindo uma alta prevalência de condições como a asma, a diabete e a hipertensão.
Implicações para o mundo em desenvolvimento
Tais descobertas devem ir adquirindo relevância crescente conforme a pandemia for ganhando terreno nos países emergentes, onde muitos milhões de pessoas vivem em condições de privação e têm múltiplos problemas de saúde, com pouco acesso aos cuidados básicos de saúde.
Como muitos dos dados disponíveis sobre a pandemia estão vindo de países ricos e de renda-média, a situação nos países emergentes deverá ser acompanhada com muita atenção. O mesmo vírus que causa perturbações administráveis em países abastados poderão ter um impacto devastador em muitos países emergentes.
Co-infecção com o HIV
A pandemia de gripe de 2009 é a primeira a ocorrer desde o surgimento da AIDS. Dados anteriores de dois países sugerem que pessoas co-infectadas com H1N1 e HIV não estão em risco aumentado de doença grave ou fatal, desde que tais pacientes estejam recebendo terapia antirretroviral. Na maioria desses pacientes, a doença causada pelo H1N1 tem sido leve, e com recuperação total.
Se esses achados preliminares se confirmarem, estas serão novidades reconfortantes para os países em que o HIV é prevalente, desde que a cobertura do tratamento com antirretrovirais for boa.
Numa estimativa atual, cerca de 33 milhões de pessoas vivem com HIV/Aids ao redor do mundo. Dessas, a OMS calcula que por volta de 4 milhões estavam recebendo terapia antirretroviral ao final de 2008.
Pandemia(H1N1)2009,Comunicado 9 - 28 de AGOSTO 2009/GENEBRA
O monitoramento dos surtos de diferentes partes do mundo fornece informação suficiente para tentarmos tirar algumas conclusões sobre como a pandemia poderá evoluir nos próximos meses.
A OMS está aconselhando os países do hemisfério norte a se preparar para uma segunda onda de surto epidêmico. Países com climas tropicais, onde o vírus pandêmico chegou mais tardiamente do que em todos os outros lugares, também precisam preparar-se para um número crescente de casos.
Países em zonas temperadas do hemisfério sul devem permanecer vigilantes. Como a experiência demonstrou, "zonas quentes" localizadas de crescente transmissão podem continuar a ocorrer, mesmo se a pandemia já tiver atingido seu pico a nível nacional.
H1N1 é agora a cepa virótica dominante
Evidenciou-se dos múltiplos surtos a demonstração de que o vírus pandêmico H1N1 rapidamente estabeleceu-se, sendo agora a cepa dominante na maior parte do mundo. A pandemia irá persistir nos meses vindouros, conforme o vírus continue a movimentar-se através das populações suscetíveis.
Um monitoramento cuidadoso dos vírus por parte da rede de laboratórios da OMS demonstrou que os vírus de todos os surtos permaneceram virtualmente idênticos. Os estudos não detectaram sinais de mutação para a forma de um vírus mais agressivo ou letal.
Do mesmo modo, o retrato clínico da gripe pandêmica é amplamente consistente através de todos os países. A maioria esmagadora dos pacientes continuam a experimentar doença leve. Apesar de o vírus poder causar doença grave e fatal mesmo em pessoas jovens e saudáveis, o número de tais casos permanece pequeno.
Grandes populações suscetíveis à infecção
Mesmo essas tendências sendo encorajadoras, um grande número de pessoas em todos os países permanecem suscetíveis à infecção. Mesmo com o padrão atual que é, no geral, adoecimento leve, o impacto da pandemia durante uma segunda onda poderá piorar conforme um maior número de pessoas sejam infectadas.
Um número crescente de pacientes com doença grave, requerendo terapia intensiva, parece ser o ônus mais premente nos serviços de saúde, criando pressões que poderiam causar muita perturbação às unidades de terapia intensiva e, possivelmente, descontinuar o fornecimento dos cuidados a outras doenças.
O monitoramento da resistência à droga
Até agora, somente um punhado de vírus resistentes ao oseltamivir foi detectado através do mundo, a despeito da administração de muitos milhões de tratamentos com drogas antivirais. Todos esses casos foram extensivamente investigados, e não há instâncias de transmissibilidade inter-humana de vírus resistente documentada até a data. Continuamos com um intenso monitoramento, também através da rede de laboratórios da OMS.
DIFERENTE DO VÍRUS SAZONAL
A evidência atual aponta para algumas diferenças importantes entre padrões de doença reportadas durante a pandemia em relação àqueles que são vistos durante epidemias sazonais de gripe.
Os grupos etários afetados pela pandemia são geralmente mais jovens. Isto é verdadeiro tanto quanto aos mais frequentemente afetados, como especialmente para aqueles que experimentam doença grave ou fatal.
Até o presente, os casos mais graves e as mortes ocorreram em adultos abaixo dos 50 anos, sendo a morte em idosos comparativamente rara. Essa distribuição etária está em forte contraste com a gripe sazonal, na qual por volta de 90% de casos graves e/ou fatais ocorrem em pessoas dos 65 anos adiante.
Falência Respiratória Grave
Talvez o que haja de mais significativo, é que clínicos de todo o mundo estão relatando uma forma muito grave da doença, até mesmo em pessoas jovens e previamente saudáveis, forma que raramente é vista nas infecções da gripe sazonal. Nesses pacientes, o vírus infecta diretamente o pulmão, causando falência respiratória grave. A salvação dessas vidas depende de cuidados altamente especializados e complexos em Unidades de Terapia Intensiva, o que frequentemente exige internações longas e dispendiosas.
Durante a estação do inverno no hemisfério sul, muitos países consideraram a necessidade de tratamento intensivo como o maior ônus imposto aos serviços de saúde. Algumas cidades, nesses locais, reportaram que cerca de 15% dos casos hospitalizados necessitaram de tratamento intensivo.
É PRECISO QUE SE LANCE MÃO DE MEDIDAS PREPARATÓRIAS PARA DAR CONTA DESSA DEMANDA AUMENTADA PARA UTIs, QUE PODERÃO SER SOBRECARREGADAS COM AUMENTOS TORRENCIAIS E SÚBITOS NO NÚMERO DE CASOS GRAVES.
GRUPOS VULNERÁVEIS
O risco aumentado durante a gravidez está agora consistentemente bem-documentado em todos os países. Este risco confere uma importância adicional para um vírus que, como este, tem preferência por infectar os jovens.
Os dados continuam a demonstrar que certas condições médicas aumentam o risco para doença grave e fatal. Tais condições incluem doenças respiratórias, notadamente a asma, doença cardiovascular, diabete e imunossupressão.
Quando forem precaver-se contra o impacto da pandemia, à medida que as pessoas forem se infectando, os órgãos oficiais da saúde precisam estar conscientes de que muitas dessas condições tornaram-se muito mais generalizadas em décadas recentes, aumentando assim o conjunto de pessoas vulneráveis.
A obesidade, que está frequentemente presente em casos graves e fatais, é agora uma epidemia global. A OMS estima que, mundialmente, mais de 230 milhões de pessoas sofrem de asma, e mais de 200 milhões de pessoas têm diabete.
Além do mais, condições tais como a asma e a diabete geralmente não são consideradas doenças fatais, especialmente em crianças e adultos jovens. A morte de jovens nessas condições, precipitadas pela infecção do vírus H1N1, pode ser uma outra dimensão do impacto da pandemia.
Alto risco de hospitalização e morte
Vários estudos anteriores sugerem um alto risco de hospitalização e morte entre certos subgrupos, incluindo grupos minoritários e populações indígenas. Em alguns estudos, o risco nesses grupos é de 4 a 5 vezes maior do que para a população em geral.
Embora as razões não tenham sido completamente compreendidas, as explicações possíveis poderiam incluir baixo padrão de vida e condições gerais de pobreza sanitária, incluindo uma alta prevalência de condições como a asma, a diabete e a hipertensão.
Implicações para o mundo em desenvolvimento
Tais descobertas devem ir adquirindo relevância crescente conforme a pandemia for ganhando terreno nos países emergentes, onde muitos milhões de pessoas vivem em condições de privação e têm múltiplos problemas de saúde, com pouco acesso aos cuidados básicos de saúde.
Como muitos dos dados disponíveis sobre a pandemia estão vindo de países ricos e de renda-média, a situação nos países emergentes deverá ser acompanhada com muita atenção. O mesmo vírus que causa perturbações administráveis em países abastados poderão ter um impacto devastador em muitos países emergentes.
Co-infecção com o HIV
A pandemia de gripe de 2009 é a primeira a ocorrer desde o surgimento da AIDS. Dados anteriores de dois países sugerem que pessoas co-infectadas com H1N1 e HIV não estão em risco aumentado de doença grave ou fatal, desde que tais pacientes estejam recebendo terapia antirretroviral. Na maioria desses pacientes, a doença causada pelo H1N1 tem sido leve, e com recuperação total.
Se esses achados preliminares se confirmarem, estas serão novidades reconfortantes para os países em que o HIV é prevalente, desde que a cobertura do tratamento com antirretrovirais for boa.
Numa estimativa atual, cerca de 33 milhões de pessoas vivem com HIV/Aids ao redor do mundo. Dessas, a OMS calcula que por volta de 4 milhões estavam recebendo terapia antirretroviral ao final de 2008.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
O TAMIFLU É PARA USO COLETIVO!!!
http://blog.ehesp.fr/le-tamiflu-se-joue-collectif/
O TAMIFLU É PARA USO COLETIVO
Antoine Flahault (Tradução do francês: Maria Lopes da Silva)
"Será que nesse momento a origem da recomendação do Tamiflu em caso de pandemia de gripe não está sendo esquecida? Vamos analisar esse produto: o oseltamivir. Ele não é um 'virucida', é apenas um 'virustático'. Ele não mata o vírus, mas impede sua replicação na célula (os vírus só conseguem se multiplicar depois de terem infectado uma célula, diferentemente das bactérias). Assim, para ser eficaz ele deve ser administrado o quanto antes possível, antes que o vírus se multiplique muito no organismo que infecta. Os ensaios clínicos jamais demonstraram uma eficácia extraordinária do produto, longe disso, pois em média o tamiflu reduz em um dia a duração dos sintomas, baixando significativamente a carga viral no paciente, que assim excreta menos vírus do que quando lhe é administrado um placebo. Quanto mais precocemente o produto for administrado na história da infecção, mais eficácia em termos de redução de duração e de carga viral se faz notar. Essa eficácia sobre a gripe foi considerada pela comissão da transparência da França como trazendo uma relação custo/benefício insuficiente para que se propusesse seu reembolso em 70% pelo seguro-saúde, em caso de gripe sazonal.
Mas em caso de gripe pandêmica, tudo muda de figura - e é isso que talvez tenha sido mal explicado ou, de todo modo, mal compreendido. A lógica que prevalece em sua recomendação de utilização pela Organização Mundial da Saúde em caso de pandemia fundamenta-se essencialmente sobre resultados de modelos matemáticos. Esses modelos nos ensinam que, para que a pandemia se propague, é preciso que a taxa de reprodução seja superior a 1. A taxa de reprodução é o número de casos secundários gerados por um caso-índice. Ora, a teoria matemática das epidemias nos ensina que a taxa de reprodução é o produto de três parâmetros: a probabilidade de transmissão do vírus entre um indivíduo infectado e um indivíduo neutro, o número de contatos com o sujeito infectado e a duração do período de contágio.
Assim, o Tamiflu, se não é um medicamento miraculoso a nível individual, pode ter um efeito bem maior sobre o plano da coletividade. Ele reduz a probabilidade de transmissão, diminuindo a carga viral no indivíduo que o tomar a título de se curar,
ou para diminuir o risco de contaminação - efeito igualmente comprovado pelos ensaios clínicos efetuados em quem o toma a título preventivo. O Tamiflu reduz, desse modo, a duração do período contagioso. O período contagioso, na ausência do Tamiflu, é estimado em média em 2,6 dias. A redução de 1 dia representa uma ação sobre a taxa de reprodução da ordem de 30%. É isso o que se visa com a utilização maciça do Tamiflu logo no início de uma pandemia. Temos total consciência de que o vírus encontrará formas de passagem, pela seleção de cepas resistentes no final (acabamos de saber da primeira notificação de uma tal mutação na Dinamarca). Mas contamos com a esperança de que esse final (aquele em que um grande número de cepas estarão resistentes) acontecerá o mais tardiamente possível, aguardando a chegada da vacina. Em virtude de não termos a vacina, a OMS recomenda envidar todos os esforços
possíveis para uma utilização maciça do Tamiflu, tanto curativa como preventivamen-te, seja qual for a natureza dos sintomas, a cada vez que o vírus for identificado e que suspeitemos fortemente de sua circulação. Uma equipe (Ferguson N et coll, Nature 2005, resumo disponível gratuitamente) havia mesmo sugerido, sempre a partir de um trabalho de modelização (em silico), no computador, que seria possível conter a expansão de um surto pandêmico de gripe - na época pensávamos no H5N1 - se utilizá-
semos maciçamente todo o arsenal disponível para reduzir a probabilidade de transmissão, aumentar a distância social entre os indivíduos (fechamento dos locais públicos, dos aeroportos), diminuição da duração do período contagioso pelo uso de antivirais, de anti-tussígenos, uso de máscaras, higiene das mãos. Isso não foi tornado possível na América do Norte, e não esperamos mais conter a epidemia fora das nossas fronteiras; tentamos, contudo, limitar a extensão dela pelo maior tempo possível. Estamos em vias de perder a origem desse arrazoado, que é o que havia levado à constituição dos estoques de Tamiflu. As empresas multinacionais do medicamento exercem tal capacidade fantasmagórica sobre a população, que preferimos ver em suas decisões o cinismo e a busca por lucros, um pouco como acontece com a indústria de armamentos. Mas no fundo, a Roche não é uma indústria de armamentos, para lutar contra uma pandemia que não parou ainda de nos surpreender? Logo será a vez de outras usinas de armamentos, as dos fabricantes de vacinas, submeterem-se à dura prova da realidade e da opinião pública, quando sobrevierem os efeitos secundários mais ou menos fáceis de imputar - ou não - à vacinação antigripal, ou talvez quando for necessário escolherem-se os grupos prioritários que se submeterão à vacinação, pois a liberação dos estoques nunca acontecerá na velocidade adequada, aos olhos dos cidadãos.
A atitude dos EEUU em relação ao Tamiflu é mais preocupante ainda, em virtude de outros países arriscarem-se a segui-la, de tal modo ela parece razoável aos clínicos que a sustentam, até mesmo na França. Vimos que a recomendação de utilização do Tamiflu ao início de pandemia não repousa sobre argumentos clínicos, mas têm sim um caráter de epidemiologia teórica, que fazem dele um medicamento de saúde pública, a mesmo título que a vacina da rubéola para o rapaz. As autoridades norte-americanas propõem agora a restrição no uso dos antivirais aos "pacientes com risco de complicações de gripe". Isso é desviar totalmente sua utilização prevista para tornar mais lenta a expansão da pandemia! Além do mais, não há nenhum ensaio clínico que eu conheça que tenha ao menos comprovado a eficácia do Tamiflu ou do Relenza na prevenção das complicações da gripe. Nem na sua mortalidade. Os defensores da "evidence based medicine" (a medicina fundada em provas científicas) se comprometem hoje a propor uma utilização de um produto, sem que haja fundamento científico sólido para tanto!!! Mas vocês irão compreender a lógica subjacente a esta atitude: talvez seja preciso ir olhar os estoques disponíveis nos EEUU, para então constatar que quando mais de um milhão de pessoas tiverem sido contaminadas nos EEUU pelo vírus da gripe pandêmica, talvez não haja estoque suficiente disponível para todos. Um comunicado concentrando o interesse de sua utilização a segmentos mais restritos da população permite evitar movimentações de pânico, a ruptura prematura dos estoques e até mesmo o descontentamento da população em face de suas autoridades, menos prevenidas que as de outros países desenvolvidos."
O TAMIFLU É PARA USO COLETIVO
Antoine Flahault (Tradução do francês: Maria Lopes da Silva)
"Será que nesse momento a origem da recomendação do Tamiflu em caso de pandemia de gripe não está sendo esquecida? Vamos analisar esse produto: o oseltamivir. Ele não é um 'virucida', é apenas um 'virustático'. Ele não mata o vírus, mas impede sua replicação na célula (os vírus só conseguem se multiplicar depois de terem infectado uma célula, diferentemente das bactérias). Assim, para ser eficaz ele deve ser administrado o quanto antes possível, antes que o vírus se multiplique muito no organismo que infecta. Os ensaios clínicos jamais demonstraram uma eficácia extraordinária do produto, longe disso, pois em média o tamiflu reduz em um dia a duração dos sintomas, baixando significativamente a carga viral no paciente, que assim excreta menos vírus do que quando lhe é administrado um placebo. Quanto mais precocemente o produto for administrado na história da infecção, mais eficácia em termos de redução de duração e de carga viral se faz notar. Essa eficácia sobre a gripe foi considerada pela comissão da transparência da França como trazendo uma relação custo/benefício insuficiente para que se propusesse seu reembolso em 70% pelo seguro-saúde, em caso de gripe sazonal.
Mas em caso de gripe pandêmica, tudo muda de figura - e é isso que talvez tenha sido mal explicado ou, de todo modo, mal compreendido. A lógica que prevalece em sua recomendação de utilização pela Organização Mundial da Saúde em caso de pandemia fundamenta-se essencialmente sobre resultados de modelos matemáticos. Esses modelos nos ensinam que, para que a pandemia se propague, é preciso que a taxa de reprodução seja superior a 1. A taxa de reprodução é o número de casos secundários gerados por um caso-índice. Ora, a teoria matemática das epidemias nos ensina que a taxa de reprodução é o produto de três parâmetros: a probabilidade de transmissão do vírus entre um indivíduo infectado e um indivíduo neutro, o número de contatos com o sujeito infectado e a duração do período de contágio.
Assim, o Tamiflu, se não é um medicamento miraculoso a nível individual, pode ter um efeito bem maior sobre o plano da coletividade. Ele reduz a probabilidade de transmissão, diminuindo a carga viral no indivíduo que o tomar a título de se curar,
ou para diminuir o risco de contaminação - efeito igualmente comprovado pelos ensaios clínicos efetuados em quem o toma a título preventivo. O Tamiflu reduz, desse modo, a duração do período contagioso. O período contagioso, na ausência do Tamiflu, é estimado em média em 2,6 dias. A redução de 1 dia representa uma ação sobre a taxa de reprodução da ordem de 30%. É isso o que se visa com a utilização maciça do Tamiflu logo no início de uma pandemia. Temos total consciência de que o vírus encontrará formas de passagem, pela seleção de cepas resistentes no final (acabamos de saber da primeira notificação de uma tal mutação na Dinamarca). Mas contamos com a esperança de que esse final (aquele em que um grande número de cepas estarão resistentes) acontecerá o mais tardiamente possível, aguardando a chegada da vacina. Em virtude de não termos a vacina, a OMS recomenda envidar todos os esforços
possíveis para uma utilização maciça do Tamiflu, tanto curativa como preventivamen-te, seja qual for a natureza dos sintomas, a cada vez que o vírus for identificado e que suspeitemos fortemente de sua circulação. Uma equipe (Ferguson N et coll, Nature 2005, resumo disponível gratuitamente) havia mesmo sugerido, sempre a partir de um trabalho de modelização (em silico), no computador, que seria possível conter a expansão de um surto pandêmico de gripe - na época pensávamos no H5N1 - se utilizá-
semos maciçamente todo o arsenal disponível para reduzir a probabilidade de transmissão, aumentar a distância social entre os indivíduos (fechamento dos locais públicos, dos aeroportos), diminuição da duração do período contagioso pelo uso de antivirais, de anti-tussígenos, uso de máscaras, higiene das mãos. Isso não foi tornado possível na América do Norte, e não esperamos mais conter a epidemia fora das nossas fronteiras; tentamos, contudo, limitar a extensão dela pelo maior tempo possível. Estamos em vias de perder a origem desse arrazoado, que é o que havia levado à constituição dos estoques de Tamiflu. As empresas multinacionais do medicamento exercem tal capacidade fantasmagórica sobre a população, que preferimos ver em suas decisões o cinismo e a busca por lucros, um pouco como acontece com a indústria de armamentos. Mas no fundo, a Roche não é uma indústria de armamentos, para lutar contra uma pandemia que não parou ainda de nos surpreender? Logo será a vez de outras usinas de armamentos, as dos fabricantes de vacinas, submeterem-se à dura prova da realidade e da opinião pública, quando sobrevierem os efeitos secundários mais ou menos fáceis de imputar - ou não - à vacinação antigripal, ou talvez quando for necessário escolherem-se os grupos prioritários que se submeterão à vacinação, pois a liberação dos estoques nunca acontecerá na velocidade adequada, aos olhos dos cidadãos.
A atitude dos EEUU em relação ao Tamiflu é mais preocupante ainda, em virtude de outros países arriscarem-se a segui-la, de tal modo ela parece razoável aos clínicos que a sustentam, até mesmo na França. Vimos que a recomendação de utilização do Tamiflu ao início de pandemia não repousa sobre argumentos clínicos, mas têm sim um caráter de epidemiologia teórica, que fazem dele um medicamento de saúde pública, a mesmo título que a vacina da rubéola para o rapaz. As autoridades norte-americanas propõem agora a restrição no uso dos antivirais aos "pacientes com risco de complicações de gripe". Isso é desviar totalmente sua utilização prevista para tornar mais lenta a expansão da pandemia! Além do mais, não há nenhum ensaio clínico que eu conheça que tenha ao menos comprovado a eficácia do Tamiflu ou do Relenza na prevenção das complicações da gripe. Nem na sua mortalidade. Os defensores da "evidence based medicine" (a medicina fundada em provas científicas) se comprometem hoje a propor uma utilização de um produto, sem que haja fundamento científico sólido para tanto!!! Mas vocês irão compreender a lógica subjacente a esta atitude: talvez seja preciso ir olhar os estoques disponíveis nos EEUU, para então constatar que quando mais de um milhão de pessoas tiverem sido contaminadas nos EEUU pelo vírus da gripe pandêmica, talvez não haja estoque suficiente disponível para todos. Um comunicado concentrando o interesse de sua utilização a segmentos mais restritos da população permite evitar movimentações de pânico, a ruptura prematura dos estoques e até mesmo o descontentamento da população em face de suas autoridades, menos prevenidas que as de outros países desenvolvidos."
O MOMENTO DE SE UTILIZAR O TAMIFLU É AGORA!
'Le Monde', entrevista com Antoine Flahault, professor de medicina e especialista em gripe:
http://www.lemonde.fr/planete/article/2009/08/26/la-mortalite-directe-du-h1n1-serait-cent-fois-celle-de-la-grippe-saisonniere_1232037_3244.html#xtor=EPR-32280229-%5BNL_Titresdujour%5D-20090826-%5Bzonea%5D
A mortalidade direta do H1N1 seria de cem vezes a da gripe sazonal
Enquanto o hemisfério norte se prepara para enfrentar a pandemia no outono, a progressão da gripe A (H1N1) no hemisfério sul permite avaliar melhor a agressividade do novo vírus. Na Nova-Caledônia o balanço era, na quarta feira 26 de Agosto, pela manhã, de 5 mortes diretamente provocadas pelo vírus, sobre uma população de 250.000 habitantes, dos quais sem dúvida mais de 35.000 haviam contraído o vírus.
Antoine Flahault, professor de medicina e especialista em gripe, fornece ao Le Monde sua análise dos últimos dados epidemiológicos e coloca em foco as idéias recebidas sobre os grupos de risco, as estratégias de vacinação e sobre a utilização do antiviral Tamiflu.
Que dizem os últimos dados epidemiológicos sobre a virulência do H1N1?
A virulência de uma epidemia de doença emergente - quer dizer, sua agressividade - é um dos parâmetros mais difíceis de se avaliar. O que vamos medir? As complicações da gripe, as hospitalizações, ou a mortalidade? Este último indicador é o que menos depende de parâmetros nacionais, como a qualidade dos sistemas de informação, a infraestrutura hospitalar, etc. Mas as coisas permanecem complexas: há três modos de se morrer de gripe. A primeira, em via de desaparecimento nos países desenvolvidos, é a sobreinfecção bacteriana. A segunda é uma pneumopatia viral que suscita uma síndrome de deficiência respiratória aguda (SDRA) e a consequente morte em 50 a 60% dos casos. Nessa situação, de "mortalidade direta", é o vírus que mata. A terceira causa, de longe a mais frequente, é o agravamento de doenças graves preexistentes. Essa mortalidade, que afeta sobretudo os idosos, tornou-se quase irredutível ao longo de cerca de vinte anos. Para a gripe sazonal, essa última modalidade é de cerca de uma morte para cada 1000 infecções nos países ricos.
Para a gripe A, qual dessas modalidade é a mais temida?
Ouvimos frequentemente que a gripe A teria a tendência de matar mais os jovens e menos os idosos. Mas essa talvez seja uma dedução um pouco prematura.
No caso das gripes sazonais, as mortes do terceiro tipo - as que afetam sobretudo os idosos - constituem uma mortalidade "invisível" no momento. Ela só é detectada, nas estatísticas, muitos meses depois da epidemia. A cada ano, depois da passagem da gripe sazonal, o índice de mortalidade aumenta em cerca de 5000 a 6000 pessoas. Para esse tipo particular de mortalidade, os efeitos da gripe pandêmica não deveriam ser inferiores àqueles da gripe sazonal. Mas ainda é cedo demais para detectá-los.
No entanto, 50% dos casos de gripe A afetam os indivíduos de menos de 20 anos...
É verdade, mas isto acontece também com a gripe sazonal! Na França, 50% dos casos de gripe sazonal ocorrem igualmente entre os menores de 20 anos.
Não existe, portanto, categorias de pessoas "de risco"?
A mortalidade que estamos vendo hoje é essencialmente a MORTALIDADE DIRETA, devida à SDRA. Ora, esses óbitos parecem ocorrer de maneira quase aleatória na população contagiada pelo vírus, ainda mais frequentemente entre os jovens. No caso da gripe sazonal, muito poucos casos de SDRA são relatados, e não podemos recorrer a estatísticas para dizer que tal grupo está mais exposto que o outro. Os centros de controle e de prevenção de doenças de Atlanta publicaram nesse verão a descrição de dez casos de gripe A com óbitos por SDRA, dos quais nove eram obesos. Essa obesidade grave poderia representar um fator de risco potencial, fato desconhecido até então. Da mesma maneira, 13% das mortes por gripe A nos EEUU atingiram mulheres grávidas, a maior parte das quais morreu pela SDRA. Elas também poderiam representar um grupo de risco.
Qual é a frequência dessa mortalidade direta pela SDRA?
Para a gripe sazonal, podemos estimar um caso por milhão, senão menos. Na França, temos em média 5 a 6 milhões de casos de gripe sazonal a cada ano e, que eu saiba, não mais de 5 a 6 óbitos por SDRA devidos a essa doença.
Para a gripe A temos hoje situações melhor documentadas. Na Nova-Caledônia, quando ainda estávamos em 3 casos (agora já estão documentados 5) o governo estimava os casos de gripe A em 20.000 - portanto, sem dúvida, cerca de 30.000 infecções, contando os casos "silenciosos". Na Ilha Maurício, tivemos 7 mortes no serviço de reanimação, dentre 15.000 casos declarados - mas, pelo que ficamos sabendo por intermédio dos contatos com o meio médico da ilha, acreditamos que os casos sejam mais numerosos, sem dúvida 50.000 casos, portanto 70.000 infecções. Estaríamos diante de uma doença cuja mortalidade direta - um caso em cada 10.000 infecções - seria certamente bem rara, mas não obstante 100 vezes superior àquela da gripe sazonal (um caso por milhão). Acabamos de fazer essa publicação no 'PLoS Currents Influenza'.
Uma vacinação em massa lhe parece apropriada?
Até os dias de hoje nunca aconteceu de tentarmos utilizar uma vacina como barreira contra uma epidemia de gripe, nem mesmo a sazonal. À exceção do Japão, nos anos 1970 a 1980, e dos EEUU em 1976.
A única estratégia que hoje conta com uma sólida experiência no domínio da gripe é a da proteção das pessoas sob risco de contrair a doença. O conhecimento desse vírus poderia modificar a definição desses grupos: sempre, e sobretudo, os idosos ou os vulneráveis; os profissionais da saúde, e finalmente as novas categorias que evoquei: os obesos mórbidos e as grávidas.
Não haveria portanto razões para modificar essa estratégia?
Infelizmente sim, haveria muitas razões, teóricas, e acabamos de as publicar no 'BMC Infectious Diseases'. Uma estratégia de massa, imunizando um terço da população mundial, teria permitido barrar a rota da pandemia. Mas não acredito ser possível propor tal estratégia a partir de meros resultados de modelos matemáticos, sem antes ter tentado testar sua validade na população. Seria uma espécie de aventura tentar lançar-se numa estratégia totalmente inovadora face à gripe A, enquanto ela ainda não puder, ao menos, ser tentada na gripe sazonal. Poderíamos nos confrontar com efeitos secundários? Não podemos excluí-los. Depois de uma campanha de vacinação em massa, a aparição de doenças nas semanas seguintes correm o risco de serem atribuídas, mesmo que erroneamente, à vacinação. Isso aconteceu com a vacina contra a hepatite B, quando surgiram casos de esclerose em placas: ninguém se incomodou em ir rastrear sua origem. Isso acarretou num descrédito durável a respeito da vacinação contra a hepatite B.
O que fazer do Tamiflu?
Temos escutado que ele deveria ficar reservado para os casos graves ou complicados, o que me espanta um pouco, pois os únicos testes clínicos disponíveis jamais se referiram à prevenção de complicações ou de mortalidade. Sua utilização tem sobretudo um âmbito coletivo, pois ele é eficaz para fazer com que a carga viral se reduza, bem como a duração dos sintomas, e portanto a circulação do vírus na população. O Tamiflu também é eficaz como tratamento preventivo. Até agora surgiram poucas resistências, O MOMENTO DE UTILIZÁ-LO, PORTANTO, É AGORA, pois para o futuro há o risco dele tornar-se inútil por muito tempo.
27/08/2009, Le Monde, Stéphane Foucart et Hervé Morin
http://www.lemonde.fr/planete/article/2009/08/26/la-mortalite-directe-du-h1n1-serait-cent-fois-celle-de-la-grippe-saisonniere_1232037_3244.html#xtor=EPR-32280229-%5BNL_Titresdujour%5D-20090826-%5Bzonea%5D
A mortalidade direta do H1N1 seria de cem vezes a da gripe sazonal
Enquanto o hemisfério norte se prepara para enfrentar a pandemia no outono, a progressão da gripe A (H1N1) no hemisfério sul permite avaliar melhor a agressividade do novo vírus. Na Nova-Caledônia o balanço era, na quarta feira 26 de Agosto, pela manhã, de 5 mortes diretamente provocadas pelo vírus, sobre uma população de 250.000 habitantes, dos quais sem dúvida mais de 35.000 haviam contraído o vírus.
Antoine Flahault, professor de medicina e especialista em gripe, fornece ao Le Monde sua análise dos últimos dados epidemiológicos e coloca em foco as idéias recebidas sobre os grupos de risco, as estratégias de vacinação e sobre a utilização do antiviral Tamiflu.
Que dizem os últimos dados epidemiológicos sobre a virulência do H1N1?
A virulência de uma epidemia de doença emergente - quer dizer, sua agressividade - é um dos parâmetros mais difíceis de se avaliar. O que vamos medir? As complicações da gripe, as hospitalizações, ou a mortalidade? Este último indicador é o que menos depende de parâmetros nacionais, como a qualidade dos sistemas de informação, a infraestrutura hospitalar, etc. Mas as coisas permanecem complexas: há três modos de se morrer de gripe. A primeira, em via de desaparecimento nos países desenvolvidos, é a sobreinfecção bacteriana. A segunda é uma pneumopatia viral que suscita uma síndrome de deficiência respiratória aguda (SDRA) e a consequente morte em 50 a 60% dos casos. Nessa situação, de "mortalidade direta", é o vírus que mata. A terceira causa, de longe a mais frequente, é o agravamento de doenças graves preexistentes. Essa mortalidade, que afeta sobretudo os idosos, tornou-se quase irredutível ao longo de cerca de vinte anos. Para a gripe sazonal, essa última modalidade é de cerca de uma morte para cada 1000 infecções nos países ricos.
Para a gripe A, qual dessas modalidade é a mais temida?
Ouvimos frequentemente que a gripe A teria a tendência de matar mais os jovens e menos os idosos. Mas essa talvez seja uma dedução um pouco prematura.
No caso das gripes sazonais, as mortes do terceiro tipo - as que afetam sobretudo os idosos - constituem uma mortalidade "invisível" no momento. Ela só é detectada, nas estatísticas, muitos meses depois da epidemia. A cada ano, depois da passagem da gripe sazonal, o índice de mortalidade aumenta em cerca de 5000 a 6000 pessoas. Para esse tipo particular de mortalidade, os efeitos da gripe pandêmica não deveriam ser inferiores àqueles da gripe sazonal. Mas ainda é cedo demais para detectá-los.
No entanto, 50% dos casos de gripe A afetam os indivíduos de menos de 20 anos...
É verdade, mas isto acontece também com a gripe sazonal! Na França, 50% dos casos de gripe sazonal ocorrem igualmente entre os menores de 20 anos.
Não existe, portanto, categorias de pessoas "de risco"?
A mortalidade que estamos vendo hoje é essencialmente a MORTALIDADE DIRETA, devida à SDRA. Ora, esses óbitos parecem ocorrer de maneira quase aleatória na população contagiada pelo vírus, ainda mais frequentemente entre os jovens. No caso da gripe sazonal, muito poucos casos de SDRA são relatados, e não podemos recorrer a estatísticas para dizer que tal grupo está mais exposto que o outro. Os centros de controle e de prevenção de doenças de Atlanta publicaram nesse verão a descrição de dez casos de gripe A com óbitos por SDRA, dos quais nove eram obesos. Essa obesidade grave poderia representar um fator de risco potencial, fato desconhecido até então. Da mesma maneira, 13% das mortes por gripe A nos EEUU atingiram mulheres grávidas, a maior parte das quais morreu pela SDRA. Elas também poderiam representar um grupo de risco.
Qual é a frequência dessa mortalidade direta pela SDRA?
Para a gripe sazonal, podemos estimar um caso por milhão, senão menos. Na França, temos em média 5 a 6 milhões de casos de gripe sazonal a cada ano e, que eu saiba, não mais de 5 a 6 óbitos por SDRA devidos a essa doença.
Para a gripe A temos hoje situações melhor documentadas. Na Nova-Caledônia, quando ainda estávamos em 3 casos (agora já estão documentados 5) o governo estimava os casos de gripe A em 20.000 - portanto, sem dúvida, cerca de 30.000 infecções, contando os casos "silenciosos". Na Ilha Maurício, tivemos 7 mortes no serviço de reanimação, dentre 15.000 casos declarados - mas, pelo que ficamos sabendo por intermédio dos contatos com o meio médico da ilha, acreditamos que os casos sejam mais numerosos, sem dúvida 50.000 casos, portanto 70.000 infecções. Estaríamos diante de uma doença cuja mortalidade direta - um caso em cada 10.000 infecções - seria certamente bem rara, mas não obstante 100 vezes superior àquela da gripe sazonal (um caso por milhão). Acabamos de fazer essa publicação no 'PLoS Currents Influenza'.
Uma vacinação em massa lhe parece apropriada?
Até os dias de hoje nunca aconteceu de tentarmos utilizar uma vacina como barreira contra uma epidemia de gripe, nem mesmo a sazonal. À exceção do Japão, nos anos 1970 a 1980, e dos EEUU em 1976.
A única estratégia que hoje conta com uma sólida experiência no domínio da gripe é a da proteção das pessoas sob risco de contrair a doença. O conhecimento desse vírus poderia modificar a definição desses grupos: sempre, e sobretudo, os idosos ou os vulneráveis; os profissionais da saúde, e finalmente as novas categorias que evoquei: os obesos mórbidos e as grávidas.
Não haveria portanto razões para modificar essa estratégia?
Infelizmente sim, haveria muitas razões, teóricas, e acabamos de as publicar no 'BMC Infectious Diseases'. Uma estratégia de massa, imunizando um terço da população mundial, teria permitido barrar a rota da pandemia. Mas não acredito ser possível propor tal estratégia a partir de meros resultados de modelos matemáticos, sem antes ter tentado testar sua validade na população. Seria uma espécie de aventura tentar lançar-se numa estratégia totalmente inovadora face à gripe A, enquanto ela ainda não puder, ao menos, ser tentada na gripe sazonal. Poderíamos nos confrontar com efeitos secundários? Não podemos excluí-los. Depois de uma campanha de vacinação em massa, a aparição de doenças nas semanas seguintes correm o risco de serem atribuídas, mesmo que erroneamente, à vacinação. Isso aconteceu com a vacina contra a hepatite B, quando surgiram casos de esclerose em placas: ninguém se incomodou em ir rastrear sua origem. Isso acarretou num descrédito durável a respeito da vacinação contra a hepatite B.
O que fazer do Tamiflu?
Temos escutado que ele deveria ficar reservado para os casos graves ou complicados, o que me espanta um pouco, pois os únicos testes clínicos disponíveis jamais se referiram à prevenção de complicações ou de mortalidade. Sua utilização tem sobretudo um âmbito coletivo, pois ele é eficaz para fazer com que a carga viral se reduza, bem como a duração dos sintomas, e portanto a circulação do vírus na população. O Tamiflu também é eficaz como tratamento preventivo. Até agora surgiram poucas resistências, O MOMENTO DE UTILIZÁ-LO, PORTANTO, É AGORA, pois para o futuro há o risco dele tornar-se inútil por muito tempo.
27/08/2009, Le Monde, Stéphane Foucart et Hervé Morin
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Médica: É difícil prever complicações de gripe suína
A infectologista e pesquisadora de vírus respiratórios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Nancy Bellei afirmou nesta segunda-feira que a maior dificuldade dos profissionais de saúde no Brasil é definir quais pacientes poderão apresentar um agravamento do quadro de gripe suína.
"Não temos como saber quem são os 10% que vão ter complicações e os 90% que não vão", disse. Segundo ela, o problema da incerteza dos médicos está diretamente relacionado à administração do medicamento Tamiflu, já que a orientação do Ministério da Saúde é que o remédio seja prescrito somente para pacientes que fazem parte dos grupos de risco ou que estão em estado grave.
A médica lembrou que, apesar haver casos em que o remédio é usado após o agravamento do estado de saúde, a maior eficácia do medicamento se verifica mesmo no período de 48 horas após o início dos sintomas.
Para Nancy, o sentimento é de "angústia" para os profissionais de saúde responsáveis por diagnosticar os casos e definir quem deve tomar o remédio. A saída, segundo ela, é usar o bom-senso: pacientes com muitos sintomas, ainda que fora dos grupos de risco, geralmente apresentam uma carga viral mais elevada e, por isso, devem ser atendidos com cautela.
Sobre a promessa da vacina no Brasil prevista pelo governo para o início de 2010, a infectologista destacou que ainda não há definição de quem vai receber as doses prioritariamente.
"Vamos precisar do antiviral porque não vamos vacinar toda a população e vamos ter casos mais graves. A política de distribuição do Tamiflu terá que ser feita antes da segunda onda da doença (prevista para o inverno de 2010)", afirmou.
Agência Brasil
"Não temos como saber quem são os 10% que vão ter complicações e os 90% que não vão", disse. Segundo ela, o problema da incerteza dos médicos está diretamente relacionado à administração do medicamento Tamiflu, já que a orientação do Ministério da Saúde é que o remédio seja prescrito somente para pacientes que fazem parte dos grupos de risco ou que estão em estado grave.
A médica lembrou que, apesar haver casos em que o remédio é usado após o agravamento do estado de saúde, a maior eficácia do medicamento se verifica mesmo no período de 48 horas após o início dos sintomas.
Para Nancy, o sentimento é de "angústia" para os profissionais de saúde responsáveis por diagnosticar os casos e definir quem deve tomar o remédio. A saída, segundo ela, é usar o bom-senso: pacientes com muitos sintomas, ainda que fora dos grupos de risco, geralmente apresentam uma carga viral mais elevada e, por isso, devem ser atendidos com cautela.
Sobre a promessa da vacina no Brasil prevista pelo governo para o início de 2010, a infectologista destacou que ainda não há definição de quem vai receber as doses prioritariamente.
"Vamos precisar do antiviral porque não vamos vacinar toda a população e vamos ter casos mais graves. A política de distribuição do Tamiflu terá que ser feita antes da segunda onda da doença (prevista para o inverno de 2010)", afirmou.
Agência Brasil
domingo, 23 de agosto de 2009
Especialistas buscam lições na luta contra nova gripe
23/08/09 - 07h00 - Atualizado em 23/08/09 - 07h00
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1277152-16726,00-ESPECIALISTAS+BUSCAM+LICOES+NA+LUTA+CONTRA+A+NOVA+GRIPE.html
Especialistas buscam lições na luta contra a nova gripe
Especialistas buscam lições na luta contra a nova gripe
Divulgação do pouco que já foi aprendido é lenta e limitada.
Inadequação de infraestrutura é evidente, mesmo nos EUA.
Lawrence K. Altman do ‘ New York Times’
Ex-presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, Richard Wenzel observou um amplo espectro de doenças partindo da gripe A (H1N1). Enquanto a epidemia de gripe suína gera caos durante o inverno do Hemisfério Sul, autoridades dos Estados Unidos buscam pistas para lidar com seu provável retorno no outono, antes que uma vacina possa proteger um grande número de pessoas. Muito sobre a pandemia e o vírus permanece desconhecido, mas especialistas dizem que a situação já expôs diversas fraquezas na capacidade de reação mundial à súbita emergência de uma doença amplamente disseminada.
Médicos sabem muito pouco sobre quais tratamentos funcionam nos casos graves"
No geral, a gravidade da pandemia tem sido “moderada” na comparação com pandemias anteriores de gripe, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS, a agência de saúde pública das Nações Unidas), embora tenha se espalhado com uma “velocidade sem precedentes” a pelo menos 168 países.
Apesar de a gripe atacar principalmente nos meses mais frios, o vírus da variante suína, o influenza A (H1N1), varreu os acampamentos de verão nos Estados Unidos e no Canadá. Esse padrão levou à crença predominante de que muito mais pessoas contrairão a gripe suína do que a gripe sazonal no outono e inverno no Hemisfério Norte.
Uma das fraquezas apontadas pelas autoridades e especialistas é, a despeito de anos de planejamento, a evidente inadequação sob vários aspectos da infraestrutura dos serviços de saúde em muitos países – incluindo os Estados Unidos – para lidar com a aparição repentina de um novo tipo de gripe. Além disso, o número de leitos em unidades de tratamento intensivo e pronto-socorros é limitado, assim como o número de equipamentos essenciais, como respiradores.
Problemas de comunicação
Outro problema é a comunicação. Autoridades e especialistas dizem ter aprendido muito a respeito da gripe suína em humanos. Porém, uma parte relativamente pequena dessas informações, incluindo resumos periódicos do que foi aprendido desde o início da pandemia, foi divulgada e publicada. Alguns peritos dizem que os pesquisadores estão esperando para publicar em revistas acadêmicas, o que pode levar meses ou mais. Essas revistas impõem severas penalidades à divulgação de informações antes da publicação. Qualquer que seja o motivo, atrasos nessa divulgação podem obstruir planos de reação.
Poucos especialistas conseguem se igualar à visão pessoal que Richard Wenzel acumulou sobre a atividade do vírus da gripe suína nos Estados Unidos, México e quatro países da América do Sul. Por convite de especialistas desses países, ele os visitou para observar casos, aconselhar medidas de controle e criticar seus dados.
Wenzel, ex-presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, disse ter observado um amplo espectro de doenças partindo da gripe suína humana: de pessoas que experimentavam poucos sintomas, ou nenhum deles àquelas que rapidamente desenvolviam complicações e morriam.
A definição padrão para a gripe inclui febre. Porém, um estranho atributo do novo vírus é a ausência de febre numa proporção significativa dos casos documentados, mesmo após alguns pacientes ficarem seriamente doentes. No Chile, foi aproximadamente a metade. No México, um terço, e nos outros lugares foi ainda menos. A falta de febre foi apontada por outros observadores em muitos casos canadenses.
Diarreia é um sintoma que parece ocorrer numa porcentagem maior de casos do que na gripe sazonal. Wenzel diz ter “implorado” aos médicos que examinassem as fezes dos pacientes, para determinar a frequência com que o vírus está presente e a extensão pela qual elas são responsáveis pela transmissão. Poucos estudos como esse foram realizados.
Pouca informação específica está disponível sobre quando as pessoas infectadas param de espalhar o vírus. Essa informação é particularmente necessária para aqueles com sistemas imunológicos debilitados por infecções de HIV, quimioterapia e remédios anti-rejeição usados em transplantes de órgãos. O curso da doença pode se tornar um risco mortal em apenas algumas horas entre pacientes que demonstraram apenas sintomas leves, conta Wenzel, mas suas visitas mostraram que “médicos sabem muito pouco sobre quais tratamentos funcionam nos casos graves”.
Médicos argentinos e mexicanos apontaram que os casos atingem o pico num período de quatro semanas, caem substancialmente ao longo de algumas semanas, e então aparecem em outros locais do país, diz Wenzel.
Gravidez e obesidade
Dois atributos mais incomuns do novo vírus mostram que a gravidez, especialmente no terceiro trimestre, e a obesidade parecem aumentar o risco de complicações da infecção. Mas Anthony Fiore, epidemiologista de gripe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, apontou a ausência de artigos publicados que indicassem a obesidade como um fator de risco.
Médicos envolvidos ativamente no cuidado dos pacientes são atrapalhados pela falta de um exame rápido, padronizado e confiável para determinar se um indivíduo tem a gripe suína ou outra doença respiratória. O diagnóstico da gripe A (H1N1) precisa ser obtido por meio de exames especiais conhecidos como PCR, sigla em inglês para reação em cadeia da polimerase. Os testes são usados em laboratórios de pesquisa e, além disso, são disponibilizados apenas por meio de departamentos de saúde locais e estaduais.
Os exames PCR, mesmo se oferecidos por um laboratório comercial, geralmente não podem ser feitos a tempo para ajudar um médico a determinar se o paciente num consultório, clínica ou hospital está com gripe suína ou sazonal – fator para apontar qual tratamento oferecer.
Profissionais da saúde e o público, segundo William Schaffner, da Universidade Vanderbilt, deveriam receber mais informações, e num prazo mais curto, com o que foi aprendido sobre a pandemia de gripe suína. Algumas dessas informações são muitas vezes relatadas em reuniões científicas, mas o verão (no Hemisfério Norte) é de calmaria no que diz respeito a esse tipo de encontro.
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1277152-16726,00-ESPECIALISTAS+BUSCAM+LICOES+NA+LUTA+CONTRA+A+NOVA+GRIPE.html
Especialistas buscam lições na luta contra a nova gripe
Especialistas buscam lições na luta contra a nova gripe
Divulgação do pouco que já foi aprendido é lenta e limitada.
Inadequação de infraestrutura é evidente, mesmo nos EUA.
Lawrence K. Altman do ‘ New York Times’
Ex-presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, Richard Wenzel observou um amplo espectro de doenças partindo da gripe A (H1N1). Enquanto a epidemia de gripe suína gera caos durante o inverno do Hemisfério Sul, autoridades dos Estados Unidos buscam pistas para lidar com seu provável retorno no outono, antes que uma vacina possa proteger um grande número de pessoas. Muito sobre a pandemia e o vírus permanece desconhecido, mas especialistas dizem que a situação já expôs diversas fraquezas na capacidade de reação mundial à súbita emergência de uma doença amplamente disseminada.
Médicos sabem muito pouco sobre quais tratamentos funcionam nos casos graves"
No geral, a gravidade da pandemia tem sido “moderada” na comparação com pandemias anteriores de gripe, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS, a agência de saúde pública das Nações Unidas), embora tenha se espalhado com uma “velocidade sem precedentes” a pelo menos 168 países.
Apesar de a gripe atacar principalmente nos meses mais frios, o vírus da variante suína, o influenza A (H1N1), varreu os acampamentos de verão nos Estados Unidos e no Canadá. Esse padrão levou à crença predominante de que muito mais pessoas contrairão a gripe suína do que a gripe sazonal no outono e inverno no Hemisfério Norte.
Uma das fraquezas apontadas pelas autoridades e especialistas é, a despeito de anos de planejamento, a evidente inadequação sob vários aspectos da infraestrutura dos serviços de saúde em muitos países – incluindo os Estados Unidos – para lidar com a aparição repentina de um novo tipo de gripe. Além disso, o número de leitos em unidades de tratamento intensivo e pronto-socorros é limitado, assim como o número de equipamentos essenciais, como respiradores.
Problemas de comunicação
Outro problema é a comunicação. Autoridades e especialistas dizem ter aprendido muito a respeito da gripe suína em humanos. Porém, uma parte relativamente pequena dessas informações, incluindo resumos periódicos do que foi aprendido desde o início da pandemia, foi divulgada e publicada. Alguns peritos dizem que os pesquisadores estão esperando para publicar em revistas acadêmicas, o que pode levar meses ou mais. Essas revistas impõem severas penalidades à divulgação de informações antes da publicação. Qualquer que seja o motivo, atrasos nessa divulgação podem obstruir planos de reação.
Poucos especialistas conseguem se igualar à visão pessoal que Richard Wenzel acumulou sobre a atividade do vírus da gripe suína nos Estados Unidos, México e quatro países da América do Sul. Por convite de especialistas desses países, ele os visitou para observar casos, aconselhar medidas de controle e criticar seus dados.
Wenzel, ex-presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, disse ter observado um amplo espectro de doenças partindo da gripe suína humana: de pessoas que experimentavam poucos sintomas, ou nenhum deles àquelas que rapidamente desenvolviam complicações e morriam.
A definição padrão para a gripe inclui febre. Porém, um estranho atributo do novo vírus é a ausência de febre numa proporção significativa dos casos documentados, mesmo após alguns pacientes ficarem seriamente doentes. No Chile, foi aproximadamente a metade. No México, um terço, e nos outros lugares foi ainda menos. A falta de febre foi apontada por outros observadores em muitos casos canadenses.
Diarreia é um sintoma que parece ocorrer numa porcentagem maior de casos do que na gripe sazonal. Wenzel diz ter “implorado” aos médicos que examinassem as fezes dos pacientes, para determinar a frequência com que o vírus está presente e a extensão pela qual elas são responsáveis pela transmissão. Poucos estudos como esse foram realizados.
Pouca informação específica está disponível sobre quando as pessoas infectadas param de espalhar o vírus. Essa informação é particularmente necessária para aqueles com sistemas imunológicos debilitados por infecções de HIV, quimioterapia e remédios anti-rejeição usados em transplantes de órgãos. O curso da doença pode se tornar um risco mortal em apenas algumas horas entre pacientes que demonstraram apenas sintomas leves, conta Wenzel, mas suas visitas mostraram que “médicos sabem muito pouco sobre quais tratamentos funcionam nos casos graves”.
Médicos argentinos e mexicanos apontaram que os casos atingem o pico num período de quatro semanas, caem substancialmente ao longo de algumas semanas, e então aparecem em outros locais do país, diz Wenzel.
Gravidez e obesidade
Dois atributos mais incomuns do novo vírus mostram que a gravidez, especialmente no terceiro trimestre, e a obesidade parecem aumentar o risco de complicações da infecção. Mas Anthony Fiore, epidemiologista de gripe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, apontou a ausência de artigos publicados que indicassem a obesidade como um fator de risco.
Médicos envolvidos ativamente no cuidado dos pacientes são atrapalhados pela falta de um exame rápido, padronizado e confiável para determinar se um indivíduo tem a gripe suína ou outra doença respiratória. O diagnóstico da gripe A (H1N1) precisa ser obtido por meio de exames especiais conhecidos como PCR, sigla em inglês para reação em cadeia da polimerase. Os testes são usados em laboratórios de pesquisa e, além disso, são disponibilizados apenas por meio de departamentos de saúde locais e estaduais.
Os exames PCR, mesmo se oferecidos por um laboratório comercial, geralmente não podem ser feitos a tempo para ajudar um médico a determinar se o paciente num consultório, clínica ou hospital está com gripe suína ou sazonal – fator para apontar qual tratamento oferecer.
Profissionais da saúde e o público, segundo William Schaffner, da Universidade Vanderbilt, deveriam receber mais informações, e num prazo mais curto, com o que foi aprendido sobre a pandemia de gripe suína. Algumas dessas informações são muitas vezes relatadas em reuniões científicas, mas o verão (no Hemisfério Norte) é de calmaria no que diz respeito a esse tipo de encontro.
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